Por Helena Martins
O Ministério Público do Trabalho (MPT) ajuizou ação contra a União, a fim de garantir financiamento para as ações de combate ao trabalho análogo ao escravo. O órgão, que tem o dever de responsabilizar exploradores e beneficiários desse tipo de crime, alertou que a redução do orçamento destinado às operações deflagradas pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel poderá levar à paralisação das atividades do grupo pela primeira vez, desde sua criação em 1995.
Em nota à Agência Brasil, o Ministério do Trabalho reiterou “que o combate ao trabalho escravo é uma ação prioritária e não será paralisada. Temos remanejado recursos e buscado, junto ao Planejamento, alternativas para que a área de fiscalização continue atuando. Na próxima semana temos programada uma ação de combate ao trabalho escravo e outras estão sendo programadas até o final do ano, na expectativa de que novos recursos serão liberados para esse fim”.
Já o Coordenador nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), procurador do Trabalho Tiago Muniz Cavalcanti, disse que não há garantia das ações programadas para setembro. “Não me foi repassada a certeza dessa operação e, até agora, a passagem do auditor não foi comprada”, relatou.
O procurador explicou que existem dois tipos de operação, as de fiscalização da legislação trabalhista em geral e aquelas voltadas ao combate ao trabalho escravo. De acordo com ele, as primeiras já estão paralisadas, sobretudo porque envolvem ações em áreas rurais, que demandam mais recursos operacionais. Em relação às atividades do Grupo Móvel, ele disse que os recursos acabaram recentemente. “O montante que foi disponibilizado acabou agora, no mês de agosto, e nós dependemos de novos repasses do governo para serem realizadas as operações previstas”.
Cada operação de fiscalização custa entre R$ 40 mil e R$ 60 mil. Em geral, são realizadas quatro operações mensais. “Com menos de um R$ 1 milhão você garante a operação de todo o semestre. É um valor muito reduzido para a importância dessa política”, disse o procurador.
Também preocupados com a continuidade dos trabalhos, auditores-fiscais do trabalho divulgaram, na quarta-feira (23), nota pública em que alertam sobre a falta de recursos para as próximas iniciativas e alertam que “as ações de combate a esse crime não podem parar”.
Antes de iniciar o processo contra a União, o MPT buscou resolver a questão extrajudicialmente, a partir de diálogo com o Ministério do Trabalho. Após reunião entre o procurador-geral do Ministério do Trabalho, Ronaldo Fleury, e o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, foi anunciada a continuidade das ações do grupo, com a garantia dos recursos. No entanto, o MPT avalia que os diálogos não tiveram êxito, por isso o órgão buscou a Justiça para evitar a paralisação e a concretização de “prejuízos diretos e irreversíveis à coletividade de trabalhadores alcançada pelas operações deflagradas para atender denúncias de trabalho escravo”, conforme o texto da ação.
Dados do Observatório Digital apontam que, entre 1995 e 2015, cerca de 50 mil pessoas foram libertadas do trabalho análogo ao de escravo no país. São pessoas submetidas a condições degradantes, trabalho forçado, jornada exaustiva ou servidão por dívida. A maior parte delas é do sexo masculino (95%) e tem entre 18 e 44 anos (83%). As libertações decorreram da atuação de equipes móveis e auditores das Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego, que realizaram, ao longo desse período, 2.020 operações, as quais envolveram a inspeção de 4.303 estabelecimentos, segundo informações compiladas pela organização Repórter Brasil.
As operações do grupo contam com integrantes do MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os estados do Pará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia têm registrado o maior número de casos, os quais estão associados a atividades como a pecuária.
Fonte: Agência Brasil