Por Erick Gimenes.
Movimentos populares do campo, da cidade, das águas e das florestas participaram na segunda-feira (12) do ato de lançamento da Semana Nacional da Alimentação, uma série de ações para denunciar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e apontar saídas para a insegurança alimentar.
Entre outras denúncias, a jornada busca expor a volta da fome, o aumento no preço dos alimentos e os vetos do governo federal à Lei Assis Carvalho (PL 735), que visa garantir a produção de alimentos pela agricultura familiar e camponesa.
O encerramento da Semana Nacional da Alimentação será na sexta-feira (16), o Dia Internacional de Ação Pela Soberania Alimentar dos Povos e contra as corporações transnacionais.
Ao abrir as falas da jornada, Adília Nogueira, do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), destacou que o modelo atual de produção e distribuição de alimentos só serve às grandes corporações, e não ao povo.
“A gente está querendo questionar o modelo, esse sistema da insegurança alimentar que estamos vivendo. A alimentação que nos chega nas cidades, pela lógica do mercado, vem trazendo para gente muitas doenças, e não a saúde, que é o que a gente busca”, disse.
Ela ressaltou que a luta pela segurança alimentar tem que ser de toda a população, fomentada por movimentos populares. “A luta pelo direito à alimentação não pode ser uma luta pontual ou corporativa. A luta pelo direito à alimentação adequada é uma luta antimperialista. Não é só uma disputa econômica, mas também uma disputa ideológica”.
A alimentação que nos chega nas cidades, pela lógica do mercado, vem trazendo para gente muitas doenças.
Selma Dealdina, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), culpou Bolsonaro pela ampliação da fome no país nos últimos anos. “As pessoas estão com fome. É uma situação que a gente não imaginava que voltaria com tanta rapidez”, lamentou.
Ela exaltou o papel da solidariedade na luta contra a desnutrição. “Na ponta, as famílias continuam passando necessidade, mas, na ponta, é a solidariedade que está salvando e que está levando comida e conforto a muitas famílias”.
Temos que romper com a opressão dos alimentos ultraprocessados
Para Célia Xákriabá, do Movimento Indígena Brasileiro, a solução para a fome no Brasil passa, antes, pela manutenção de territórios. “Não existe soberania alimentar se não existir a liberdade dos nossos territórios. Não existe democracia se não tiver território indígena demarcado. Não existe autonomia alimentar se não existir a redemocratização do uso da terra”, afirmou.
João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lembrou que, além da fome, há uma grande desnutrição entre os brasileiros, gerada principalmente pelos interesses do lucro. “Tem muita gente que come, porém não se alimenta com os nutrientes necessários para ter uma saúde, uma vida boa. Temos que romper com a opressão dos alimentos ultraprocessados, que não são alimentos, são apenas mercadorias”.
Stedile defende políticas voltadas aos trabalhadores para superar a insegurança alimentar. “A política necessária para o povo acessar comida, em primeiro lugar, é ter emprego e renda. É o emprego e renda para os trabalhadores que moram na cidade que lhe dá segurança para não passar fome e lhe dá dignidade de escolher o que ele quer comer”.
Edição: Rodrigo Chagas.