Por Rafael Tatemoto.*
Defender a estabilidade democrática e denunciar o ajuste fiscal. Estas são as duas bandeiras que os movimentos sindical e sociais, do campo e da cidade, levarão às ruas de São Paulo na manifestação marcada para o dia 20 de agosto, às 17h, no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste paulistana. O ato será parte de uma série de mobilizações em todo o país.
O tema foi debatido na noite de sexta-feira (7) no auditório do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), no centro da capital paulista. Com cerca de 300 pessoas, representando mais de 60 entidades, as organizações, que compõem o Fórum dos Movimentos Sociais de São Paulo, definiram a realização de atos e marchas unitárias durante o próximo período, com foco no dia 20.
Os debates foram conduzidos por João Pedro Stedile, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e Leci Brandão, deputada estadual pelo PCdoB. Estavam presentes, entre outras organizações, União Nacional dos Estudantes (UNE), Levante Popular da Juventude, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central de Movimentos Populares, Consulta Popular, além de militantes do PT e do PCdoB.
Conjuntura
Para Stedile, o cenário brasileiro enfrenta três diferentes crises: econômica, social e política. Ele defende uma reorientação na política econômica do governo federal com aumento, e não redução, do investimento público. O dirigente do MST também considera urgente uma reforma política que traga nova legitimidade ao sistema representativo, dando fim ao financiamento empresarial de campanhas.
“A cada eleição teremos uma Operação Lava Jato, se não mudarmos este sistema. Isso só mudará se houver uma reforma política drástica, que acabe com o financiamento privado das campanhas, que recupere a fidelidade partidária e o sentido dos partidos”, apontou. “Não temos mais bancadas partidárias. Dez empresas elegeram 70% do Congresso. Quem [o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo] Cunha representa? Os R$ 100 milhões que ele arrecadou para se eleger”, declarou.
Leci Brandão também defendeu a reforma política. “É necessária para que estejamos no poder, porque nós não estamos lá. Quando houver financiamento público de campanha é que ocuparemos os espaços e teremos a representatividade, sejamos nós, movimentos sociais, negros e negras e mulheres”, disse.
Stedile destacou o esforço de articulação do Grupo Brasil. Segundo ele, é necessário uma frente política e programática capaz de formular um programa alternativo ao que está posto. “Nós, da classe trabalhadora, ainda não temos um programa. Nós não estamos preocupados em fazer frente com a esquerda, queremos fazer uma frente com o povo brasileiro”, enfatizou.
Para o dirigente do MST, os movimentos populares devem ter quatro prioridades neste momento: impedir qualquer tentativa de golpe; defender os direitos do trabalhadores, exigindo mudanças na política econômica; pautar a reforma política e defender a Petrobras. “O petróleo é a última reserva estratégica de recursos naturais que pode financiar o desenvolvimento nacional”, destacou.
O vice-presidente da CUT São Paulo e diretor da Apeosp, Douglas Izzo, reforçou que é preciso manter as mobilizações nas ruas, em defesa da democracia. “Nosso estado paulista articula toda a política conservadora, que culmina com a política atrasada de ódio e de ataque à democracia brasileira. Não aceitamos isso. Nossa resposta se dará nas ruas, no dia 20”, apontou.
Juventude
Durante a plenária, grande parte das falas foram feitas por militantes jovens. Marianna Dias, diretora de Cultura da UNE, ressaltou a necessidade de “coragem e unidade”, afirmando que os estudantes estarão nas ruas com a classe trabalhadora. “Nós não podemos esperar do Congresso Nacional e da política tradicional a mudança”, declarou.
Luiza Trocolli, do Levante Popular da Juventude, ressaltou o papel dos jovens na luta política. “Estamos em um período fundamental na disputa de corações e mentes. A juventude é um polo dinâmico das lutas. É preciso inovar em nossos métodos de convencimento político”, destacou.
São Paulo
Os movimentos presentes destacaram o papel central das organizações populares em São Paulo na luta contra o conservadorismo, lembrando “omissões do governo estadual” e destacando “a blindagem midiática que o PSDB tem no estado”.
Durante o encontro, os movimentos aprovaram a carta “O povo de São Paulo é contra o golpe”, na qual falam sobre a ameaça de trapaça da direita brasileira, atrelada ao imperialismo. No documento, as organizações apontam que o conservadorismo tem como berço o estado de São Paulo, liderado pelo PSDB há mais de 20 anos.
*Do Brasil de Fato.
Fonte: MST.