Movimentos populares criticam diferença “escandalosa” de abordagem da polícia com bolsonaristas

Para o presidente do CNDH, “salta aos olhos” que as forças policiais estão “a serviço de um grupo político”

Nesta terça (1), a PRF registrava cerca de 250 interdições de vias no Brasil – Foto: Caio Guatelli/ AFP

Por Gabriela Moncau, Brasil de Fato.

Desde que Lula (PT) foi eleito, no último domingo (30), como o próximo presidente da república, estradas do Brasil estão sendo bloqueadas por grupos bolsonaristas contestando as urnas e pedindo intervenção militar. A desobstrução das vias por parte das forças de segurança só começou de forma incisiva na terça-feira (1), depois de duas determinações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Para Débora Nunes, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), é “escandalosa a diferença de tratamento das forças de segurança quando são os movimentos sociais que estão se manifestando, em bloqueios ou manifestações reivindicativas”.

Veja mais: Lula volta para fazer mais e melhor. O comentário de Paulo Nogueira Batista Jr.

“Por mais legitimas que sejam as pautas”, descreve a ativista pela reforma agrária, “o natural é criminalizar e agir com violência e truculência contra os trabalhadores e trabalhadoras”.

Não foi essa a reação da Polícia Rodoviária Federal (c) frente aos protestos bolsonaristas. Este mesmo órgão realizou operações de fiscalização, especialmente no Nordeste, atrasando ônibus que levavam eleitores no dia do pleito.

Passada a eleição e com a proliferação dos bloqueios de estradas, a PRF optou por acionar a Advocacia Geral da União (AGU) pedindo um “interdito proibitório” para que, então, agisse na liberação das vias. Na prática, é um pedido à justiça por um aval para desempenhar uma atribuição que já é da corporação.

Agentes de segurança apoiando atos golpistas

Nas redes sociais circulam registros de policiais manifestando apoio às manifestações que reivindicam um golpe militar no país. Um vídeo mostra um agente da PRF cortando alambrado com um alicate para ajudar bolsonaristas a ocuparem da rodovia próxima ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Em outro, um policial de Santa Catarina anuncia aos manifestantes que interditam a BR-470 que “nenhum veículo que está na manifestação aqui será alvo de notificação. Eu não vou fazer multa nenhuma”.

Há, ainda, um em que um agente do Grupo de Apoio Preventivo (GAP) da Coordenadoria de Trânsito de Itajaí (SC) discursa aos bolsonaristas pedindo que o grupo “resista” por 72 horas.

Em coletiva de imprensa na terça-feira (1), diretores executivos da PRF afirmaram que o órgão “não apoia a ilegalidade ou o fechamento de rodovias federais”. Segundo o corregedor da PRF, Wendel Benevides, “os casos que têm aparecido na internet já foram identificados e a corregedoria do órgão já instaurou um procedimento”.

“O policial por vezes tem atitudes que não condizem com o que é determinado pela direção geral”, afirmou Benevides.

A discrepância de tratamento por parte das forças de segurança também foi citada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em nota: “Nós do MTST sempre estivemos nas ruas lutando por direitos sociais legítimos como casa e comida. Muitas dessas vezes fomos recebidos com tiros, bombas, agressões e prisões”, salienta o movimento.

Conivência

Para Darci Frigo, presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), os atos bolsonaristas são ilegais, “por terem em sua natureza a defesa da instauração de uma ditadura no nosso país”. E o tratamento dado pelas forças policiais a essas manifestações é visto por Frigo como de “conivência”.

“É tão discrepante em relação ao tratamento que as forças policiais dão aos movimentos sociais que salta aos olhos de qualquer pessoa que essa polícia está partidarizada a serviço de um grupo político”, finaliza.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

 

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