Movimentos pela saúde vão à CPI da Covid em defesa da vida, do SUS e da democracia

Entre dezenas de manifestações no país nesta quinta (5), a Frente pela Vida entregará manifesto à comissão Entidades também alertam riscos de flexibilização das restrições, enquanto outros países se mobilizam para conter a variante delta. “Não está tudo bem”

“Nossa ida à CPI tem o objetivo de dar apoio e exigir que realmente a CPI possa ajudar o Brasil a identificar as responsabilidades”, explica a presidenta da Cebes, Lucia Souto. Foto: Coren-DF/Facebook

Com a retomada dos trabalhos da CPI da Covid no Senado, a Frente pela Vida prepara a entrega à comissão de um manifesto em defesa da vida, do Sistema Único de Saúde (SUS) e da democracia nesta quinta-feira (5), Dia Nacional da Saúde. O ato marca uma das dezenas de manifestações programadas para hoje todo o país pelas entidades de saúde coletiva que formam o movimento, com o apoio das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

A Frente pela Vida será representada pelo presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto. Além de celebrar o Dia da Saúde, a presença do movimento visa também mostrar a aprovação sobre as investigações que consideram um dos trabalhos estratégicos para o Brasil.

“A CPI já trouxe à tona não só toda aquela sorte de crimes, da imunidade por rebanho que provocou a morte evitável de quase 560 mil brasileiros e brasileiras. Ela também está revelando casos de corrupção exatamente em uma área tão importante e sensível como a saúde. São situações gravíssimas. Nossa ida à CPI tem o objetivo de dar apoio e exigir que realmente a CPI possa ajudar o Brasil a identificar as responsabilidades para que a gente não passe mais uma vez de forma impune por essa calamidade que é a maior da nossa história”, explica a médica sanitarista, Lucia Souto, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela é presidenta do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), que integra a Frente pela Vida.

Relaxamento indevido

O documento também deve expressar a preocupação das entidades de saúde coletiva com a suspensão das principais medidas de contenção da covid-19. Em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual, a presidenta do Cebes observou que apesar da queda no número de mortes, por conta da vacinação, ela vem acontecendo em um ritmo cada vez mais lento. O estado do Rio de Janeiro registra, por exemplo, uma alta nos óbitos.

Neste domingo (1º) foram registradas 464 novos óbitos, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com o acréscimo, o total de vidas perdidas para a covid subiu para 556.834.

O temor, segundo a sanitarista, é de uma nova onda da doença, com anunciado avanço da variante delta, já confirmada no país, agravado pelo fim das medidas de flexibilização do comércio e pela volta às aulas sem segurança. “Há muita discussão com relação a esse relaxamento indevido. Por que não ter os cuidados necessários para continuarmos com segurança esse processo para controlar a pandemia até o final desse ano?”, questiona Lucia cobrando cautela também com datas comemorativas, como o Dia dos Pais neste domingo (8).

“Com certeza esse é um período extremamente sensível. Acho que o Dia dos Pais – com essas aglomerações em shoppings, locais fechados, praças de alimentação – é completamente inadequado, precisamos não realizar esse tipo de coisa. No Rio, várias pessoas da comissão científica da secretaria municipal de Saúde se manifestaram contra essa abertura que muitos estão denominando como irresponsável e eu também. O que achamos é que temos que ter todos os cuidados e cautela. Não dá para ter essa sensação de que está tudo bem, porque não está. Todos os países do mundo estão atravessando um momento delicado de novo”, adverte a médica.

Brasil às cegas

Conforme reportou a RBA, a transmissão da variante delta ameaça todo o mundo e países como Austrália, China e Japão já reforçam as restrições. A Austrália e a China retomaram os confinamentos locais e o país sede das Olimpíadas estendeu o estado de emergência em diversas regiões. Um contraste com o Brasil, mesmo diante da cepa que é no mínimo seis vezes mais transmissível e tão contagiosa quanto a catapora.

“Na China começou em um aeroporto. Dali, mais de 200 pessoas foram seguidas e identificadas com a variante delta. Agora está sendo feito um rastreamento de toda a população. À medida que encontram alguém com a doença eles fazem esse isolamento radical. E no Brasil nós não sabemos, estamos às cegas, porque não há esse rastreamento. Não temos noção de qual é o tamanho e a presença da variante delta no território nacional. Mas sabemos pelos outros países que ela está presente”, compara a especialista.

Lucia finaliza, alertando que é preciso reforçar a estratégia de vacinação simultaneamente aos cuidados com distanciamento e uso de máscaras. “Como estamos no escuro, sem saber o que está acontecendo, o que nos cabe nesse momento como sociedade é tomar os cuidados e restrições. Máscaras, álcool em gel, não aglomeração, não ir para espaços fechados. Uma sociedade que quer proteger a própria vida tem que fazer isso. E simultaneamente ampliar a vacinação e até o rastreamento dos casos para termos um quadro mais adequado e preciso do que está acontecendo de fato no Brasil”, conclui.

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