Índio (Intersindical), Gilmar (MST), Boulos (MTST), Vagner (CUT), Carina (UNE) e Raimundo (CMP): Congresso e governo sem moral
Por Vitor Nuzzi.
As frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, que reúnem quase uma centena de movimentos sociais, não admitirão uma saída para a crise política que não contemple convocação imediata de eleições gerais. “Não vamos aceitar golpe dentro do golpe. Vamos continuar fazendo campanha pelas diretas já. (A solução) Não pode ficar na mão de um Congresso que é absolutamente questionável”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas, após reunião na sede da entidade, na região central de São Paulo. Ao comentar o pronunciamento de Michel Temer negando a renúncia, ele afirmou que a postura demonstra “a falta de irresponsabilidade que esse senhor tem com o Brasil”.
Para o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, integrante da Povo sem Medo, o governo – que já não tinha legitimidade – perdeu a condição política de continuar. “Os mesmos que entraram pelas portas dos fundos do Palácio do Planalto vão sair de lá direto para a lata de lixo da história”, afirmou, apontando uma “operação em curso” que inclui eleição indireta. “É golpe. Nenhuma dessas alternativas (Rodrigo Maia, Cármen Lúcia) tem legitimidade. Não vamos sair das ruas.”
Boulos prevê que neste domingo (21 de maio) 1 milhão de pessoas estarão se manifestando pelo país por eleições. “Se o Temer cair, a mobilização prossegue. O Fora Temer não basta mais”, disse o líder do MTST, para quem a única saída “oxigenada” da crise passa pela participação popular, “qualquer que seja a alternativa jurídica para isso”, citando a proposta de emenda à Constituição que estabelece eleições e o próprio julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, marcado para 6 de junho.
Os movimentos também pedem a retirada das propostas de reformas trabalhista e previdenciária, em tramitação no Senado e na Câmara, respectivamente. “Não há condição política para essa turma propor que você fique sem aposentadoria ou que faça bico porque não tem emprego”, disse Vagner. Ele lembrou que as centrais farão uma “ocupação” em Brasília na próxima quarta-feira (24). E considera a crise um “momento de oportunidade para retomar a democracia”.
“Há um consenso (entre as entidades que integram as frentes) de que a questão fundamental é diretas já”, disse Gilmar Mauro, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Esse Congresso não pode eleger indiretamente, porque não tem moral.” Na avaliação do dirigente, o processo que pode culminar com a queda de Temer é resultado da pressão popular. “Queremos retomar o processo democrático no nosso país”, afirmou.
“As eleições diretas são a única alternativa para devolver ao povo a solução para este país”, reforçou a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, destacando a extensão da greve geral realizada em 28 de abril. “Agora se revelam os motivos desse golpe, de tamanha ruptura institucional, aplicar um programa que não foi escolhido em 2014.”
Coordenador da Central de Movimentos Populares e da Brasil Popular, Raimundo Bonfim disse que há setores “flertando com eleições indiretas” e que não há fator de aproximação com grupos de direita, a não ser a saída de Temer. “Isso não significa que a gente não queira conversar com a base que eles dizem representar”, emendou. Para ele, as chamadas “pedaladas”, pretexto usado para a destituição de Dilma, assumem “insignificância” diante das denúncias divulgadas desde ontem.
“Não vamos aceitar nenhuma saída por cima”, disse o secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, chamando Temer e o PSDB de “farsantes” e afirmando que, agora, não se trata de discutir quem apoiou ou não o impeachment de Dilma, mas dos mais de 90% que, segundo as pesquisas, rejeitam o atual presidente. “Das ruas nós não sairemos até a derrubada desse governo. Queremos também a revogação da lei da terceirização. Se for necessário, faremos uma nova greve geral, com mais força.”
Fonte: RBA