Cerca de 700 famílias ocupam desde a última semana uma área abandonada há vários anos, em Santa Luzia, São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
Vladimir Platonow.*
As ocupações de prédios e terrenos em áreas urbanas, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) deverão se intensificar nos próximos meses, ganhando força em 2015. A previsão é do integrante da coordenação estadual do movimento no Rio de Janeiro, Vitor Guimarães, que está à frente da ocupação Zumbi dos Palmares, reunindo 700 famílias, no bairro de Santa Luzia, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. “Isto é uma certeza [a de mais ocupações em 2015]. Nossa entrada no Rio de Janeiro, em 2014, sinaliza que esses próximos anos serão de consolidação do movimento nos centros urbanos. A nossa expectativa é que a luta dos trabalhadores fique ainda mais destacada a partir do ano que vem”, disse.
Segundo Guimarães, programas de habitação como o Minha Casa, Minha Vida representam um avanço, mas ficam aquém da necessidade de moradias no país. “O Minha Casa, Minha Vida é um programa econômico, com efeitos colaterais no problema habitacional do país. Ele não foi construído para sanar o déficit habitacional. Foi desenhado para construir mais casas. Nem todo mundo consegue chegar nas casas e o programa não enfrenta o problema dos aluguéis, nem das moradias precárias. Ele até constrói uma quantidade grande de casas, mas que, comparado com o déficit habitacional, é irrisória”, disse o líder do MTST.
Na área de 60 mil metros quadrados ocupada desde a última sexta-feira (31), famílias constroem rapidamente barracos com pouco mais de quatro metros quadrados, usando bambus e lonas plásticas. A grande maioria é de pessoas da própria região, em busca de uma casa própria. Elas argumentam que não conseguem pagar aluguéis cada vez mais caros ou que moram em condições precárias, de favor, na casa de parentes.
É o caso da catadora Vanessa do Couto Maria, que mora com três filhos adolescentes em uma casa de apenas um cômodo. Ela já ergueu seu barraco de lona e trouxe até uma gaiola com passarinho para enfeitar. “Nós não queremos confusão, não queremos quebrar nada. Cato ferro-velho e não tenho condições de pagar um aluguel de R$ 300. Os políticos tiram caixa 1, caixa 2, mas ajudar o povo, ninguém quer. Nós não queremos passar necessidade. Queremos uma moradia”, desabafou Vanessa.
O vizinho Alexandre Bezerra da Silva, que trabalha com biscates ou capinando, também já demarcou seu lote, na esperança de ser incluído em um programa habitacional do governo. “Nós queremos uma moradia digna, não queremos problemas. Queremos lutar pelos nossos direitos. Moro de aluguel e pago R$ 350. Não tenho mais como sustentar o gasto. Coisa errada eu não quero fazer. Então tenho que abraçar esta oportunidade”, disse Alexandre.
O terreno ocupado, segundo a prefeitura de São Gonçalo, pertence à empresa G Bastos Comércio e Indústria de Embalagens Plásticas Ltda. A expectativa dos integrantes do MTST é que haja pedido de reintegração de posse na Justiça. Se isso ocorrer, prometem resistir, mas de forma pacífica.
*Repórter da Agência Brasil
Fotos: Tomaz Silva/Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil