Morreu Ernesto Sábato!

Por Raul Longo.

Com exclamação pela tristeza, mas tudo em minúscula posto que isto não é coisa que se alardeie.

Não há o que alardear da morte de Ernesto Sábato e que nossa tristeza se equipare à dignidade de sua vida.

Há que se aceitar tal inexorabilidade, como natural.

Borges também morreu… Por que não Sábato?

Conta-se que no féretro de Borges, Sábato teria cochichado a alguém que seria preciso verificar detalhadamente para se ter certeza, pois os gênios sempre pregam peças na posteridade.

Por certo, Sábato também.

Alguns podem considerar brincadeira de mal gosto, mas quem sobreviveu às ditaduras argentinas, sabe que humor é esse.

Se Cortazar também morreu, por que não Sábato?

Não sei de nada que tenha comentado Sábato sobre o o último “chiste” de Cortazar, mas naquele comentário sobre a morte de Jorge Luís Borges, Ernesto já definira a todos, inclusive a ele próprio: “los genios  no son confiables”.

Portanto não há porque se lamentar a morte de Ernesto Sábato, embora nestes casos sempre aparente uma brincadeira de mau gosto.

Já para outros, a morte é uma benção. Os torturadores, por exemplo! Os agentes das ditaduras! Os próprios ditadores! Ah! Estas sim são mortes para se alardear, festejar, comemorar! Pois sequer deveriam ter nascido.

No entanto, desses logo nos esqueceremos. Logo não passarão de uma mancha na história que se quer relegada ao passado como triste lembrança da qual, por mais que se esfregue, nunca se poderá limpar. Ainda assim não passam e não passarão de apenas um borrão sem nome nem identidade.

E quando as futuras gerações se lembrarem das ditaduras, não será por essas aberrações que se preferiria natimortos, mas sim por aqueles que os enfrentaram, aqueles que os arrostaram, aqueles que os desmascararam.

Como Sábato.

É por Sábato, e todos como ele, que por séculos as gerações se lembrarão de que as ditaduras não podem, jamais, retornar. Até porque sem Ernesto Sábato a covardia seria ainda maior!

Não se regozijem os remanescentes do fascismo latino-americano! Tampouco confiem na morte dos gênios, posto que são eternos.

De forma que não devo lamentar a morte de Sábato que não tem nada a ver com Sábado, mas já aí nesse simples trocadilho com o dia de sua morte, se denota o chiste de que falava quando da morte do Borges.

Esses bruxos!…

 

O escritor argentino Ernesto Sábato morreu neste sábado aos 99 anos em sua casa, nos arredores de Buenos Aires, disseram pessoas próximas ao autor.

Sábato, um dos maiores nomes da literatura argentina, estava há vários anos praticamente cego e se mantinha recluso em sua residência na cidade de Santos Lugares.

Nos últimos dias uma bronquite complicou seu estado de saúde, afirmou sua companheira, Elvira González Fraga, em entrevista à imprensa local.

Cesar de Lica-23.mai.03/Efe

 

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