Morre por coronavírus Domingos Mahoro, cacique xavante, líder da causa indígena

Mahoro estava em um hospital particular de Primavera do Leste, a 239 km de Cuiabá, onde ficou por 3 dias esperando para obter um leito de UTI. A letalidade da covid-19 entre índios Xavantes é 160% maior que a média nacional.

Foto: Reprodução

Por Pedro Cheuiche.

Domingos Mahoro morreu enquanto estava internado no Hospital Estadual Santa Casa, em Cuiabá. O cacique estava internado desde o dia 25 e o estado de saúde dele foi se agravando.

Mahoro será enterrado na terra indígena. Ele era presidente da cooperativa indígena do estado e era uma liderança atuante nas causas do povo indígena em Mato Grosso. De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, militarizado por Bolsonaro, 102 indígenas xavante foram infectados pela covid-19 no Mato Grosso. Dessas vítimas, nove morreram.

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O impacto da covid-19 segue cada vez mais intenso entre os indígenas, principalmente os de Mato Grosso. A taxa de letalidade na população Xavante alcançou 11,7%, índice 160% maior que a atual média da população brasileira (4,5%), segundo dados do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde atualizados até o dia 25 de junho.

A política anti-indígena de Bolsonaro já se manifestou em diferentes declarações e políticas, como a liberação de posse de arma no campo ou seu manifesto desejo de legalizar o garimpo em áreas indígenas. Agora em tempos de pandemia, se manifesta através da negligência pelas vidas indígenas. Dispondo de cerca de R$ 45 milhões em caixa, a pasta chefiada pela fanática religiosa Damares Alves direcionou um valor praticamente simbólico de R$1.059,00 para o combate às consequências da crise sanitária e econômica da pandemia entre as populações mais excluídas e vulneráveis como comunidades indígenas e quilombolas, entre outras. Além de historicamente excluídas e reprimidas, essas populações agora são esquecidas por um governo que prioriza o lucro dos capitalistas acima da vida dos trabalhadores e do povo pobre.

Colocamos aqui um trecho de um trabalho do antropólogo Massimo Canevacci em homenagem a Domingos Mahoro, um pioneiro no movimento de auto-representação através da tecnologia, a despeito das tentativas de tratar o índio como um ser “puro”:

“A sua capacidade de expor – contra todas as extensas oposições pelo uso nativo das mídias que, por sinal, continuam difundindo uma visão do nativo “ puro” e “incontaminado” – o seu desafio em favor de uma mudança cultural também utilizando vídeo e computador. O uso descentrado da tecnocomunicação não significava abandonar o ser Xavante, mas o contrário: pode ser a maneira de estar dentro e contra o processo da globalização. Filmar os próprios rituais significa reativá-los, difundi-los, interpretá-los. Significa uma virada metodológica para a antropologia contemporânea, sem apenas interpretar, mas mostrando a auto-representação da própria cultura.”

(…)

“Domingos é um extraordinário orador e também por isso é Cacique, pois um chefe político deve saber falar; o seu papel é inseparável do seu discurso em público. A arte da retórica legitima o poder representativo. E Mohoro é extraordinário nisto, com a sua voz calma e arredondada, que destaca cada palavra; os olhos
vivos e atentos; os cabelos cortados ao estilo xavante, com os palitos de
madeira fincados nas orelhas a caracterizar sua identidade: uma identidade em movimento, desvinculada do inamovível peso das raízes” (Massimo Canevacci, Perspectiva. Florianópolis,v.20, n.Especial, p. 35-56, jul./dez.2002).

Com informações da Revista Fórum e G1

 

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