Polêmico e crítico ferrenho da Igreja Católica e da ditadura militar na Argentina, o artista plástico León Ferrari morreu nesta quinta-feira (25/07) em Buenos Aires, sua cidade-natal. Ele tinha 92 anos e foi vítima de um câncer.
Ferrari, considerado o maior artista plástico argentino, ganhou notoriedade por seu trabalho provocativo sobre temas como guerra, religião, poder e sexo, mas também chamou a atenção internacional por seus comentários fortes e polêmicos. Ele defendeu, por exemplo, que a Igreja Católica foi cúmplice da ditadura argentina e chegou a chamar Jesus Cristo de “intolerante”.
Sua postura crítica é perceptível em grande parte de suas obras, como a famosa escultura “La Civilización Occidental y Cristiana”, feita em 1965, em que Jesus é pregado em um avião bombardeiro norte-americano. Quando Jorge Bergoglio foi escolhido como novo papa, Ferrari disse ao jornal Folha de S. Paulo que era “um horror” e que ele seria um papa “muito autoritário, com certeza”.
A carreira artística do argentino se iniciou na década de 1950 e ele chegou a expor algumas peças em Milão em 1955, mas só obras de arte abstratas, o que parou de fazer exatamente em 1965, quando criou “La Civilización Occidental y Cristiana”, sua obra mais conhecida.
Entre 1976 e 1991, Ferrari exilou-se no Brasil, por conta do regime militar na Argentina, sendo que um de seus três filhos desapareceu por conta da repressão. Em São Paulo, onde viveu, ainda moram duas netas suas.
O artista plástico foi crítico da Igreja por muitos anos e, em 2004, uma retrospectiva de sua obra exposta no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, foi invadida por grupos católicos e teve algumas peças destruídas. À época, o atual papa Francisco, então cardeal, chamou Ferrari de “blasfemo”.
Em 2007, ele recebeu o Leão de Ouro na 52ª Bienal de Veneza, principal prêmio das artes visuais. Em 2010, a Arco, feira de artes de Madri, Postconcedeu a ele o título de melhor artista internacional vivo pelo conjunto da obra exposta lá. No ano passado, recebeu ainda o prêmio Konex de Brilhante, entregue na Argentina.
Recentemente, por já estar doente de câncer, Ferrari não pôde comparecer à exposição em sua homenagem realizada no instituto cultural da ESMA, ex-centro de tortura transformado em museu de direitos humanos.