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Apologia ao nazismo é crime no Brasil e deve ser repudiado e punido não apenas por ser uma fala que expõe ao risco negros, homossexuais, judeus, ciganos e seres humanos considerados “não arianos”, ou “inferiores” em relação a uma “raça superior e branca”, como defendia aquela ideologia. Não só por isso. É preciso ler o que há de mais cruel por trás de toda simpatia àquela ideologia. Me refiro à estratégia que, se utilizando desta apologia criminosa, a denuncia para legitimar outro tipo de segregação, em vigor na Palestina, buscando justificar, no campo do discurso político, o neocolonialismo sionista sobre a Palestina.
Sim, o sionismo usa o “nazismo” e o “holocausto” como “argumento” para continuar a ocupação e a limpeza étnica do povo palestino, de igual modo que fazia Hitler: sob a ideia de que a Alemanha pertencia àquela fantasiosa “raça ariana” e que a Alemanha lhes pertencia por “vínculo sanguíneo”. Ora, não era isso que pregava o nazismo? Não é isso que prega, desde sua “fundação” sobre a Palestina, o Estado de Israel? Senão, leiamos o inconfundível Isaac Deutscher em seu ensaio “O judeu não-judeu”¹:
“Vamos agora aceitar as ideias de que sejam laços raciais ou ‘vínculo sanguíneo’ que faz a comunidade judaica? Não seria outro triunfo para Hitler e sua degenerada filosofia? Se não é a raça, que é então que faz o judeu? Religião? Eu sou ateu. Nacionalismo judaico? Sou internacionalista. Dessa forma, em nenhum dos dois sentidos sou judeu. Sou judeu, entretanto, pela força de minha incondicional solidariedade aos perseguidos e exterminados.”
E foi assim que Deutscher, Naum Goldmann² e muitos outros antissionistas desarticularam qualquer vinculação da tradição judaica com o sionismo. O primeiro chegou a concluir, com muita pena, que “é uma verdade trágica e macabra que o maior ‘re-definidor’ da identidade judaica foi Hitler e este é um dos seus maiores triunfos póstumos”.
Primo Levi, escritor italiano e sobrevivente de Auschwitz, foi o autor da célebre frase que expôs esse mecanismo cruel sionista na Palestina ocupada quando disse que “todos têm os seus judeus; e os judeus dos israelenses são os palestinos”. A posição antissionista de Levi sobre a colonização da Palestina, contra as justificativas do sionismo para expulsar e exterminar o povo árabe-palestino de suas terras para dar lugar a perseguidos europeus de fé judaica como se os palestinos fossem culpados dos crimes nazistas na Europa, é uma posição humanista seguida por muitos sobreviventes de fé judia. Foi e é a posição oficial do judaísmo desde o nascedouro daquele movimento secular rejeitado na Alemanha por 75 dos seus 80 rabinos, razão pela qual não conseguiu realizar seu 1° Congresso Sionista em solo alemão, entre alemães judeu, mas em Basiléia, Suiça, em 1897.
Bem, tomo nota dessas informações para – assim como Levi, Einstein, Gandhi, Mandela… (todos antissionistas) – demonstrar como o sionismo se alimenta, para dizer que um crime de ódio, um discurso supremacista não pode legitimar a limpeza étnica e o regime de apartheid contra os palestinos sob o pretexto do “vejam, precisamos mesmo das terras palestinas para nos proteger dessas ameaças”.
Deste modo, a fala de Monark não traz prejuízos só à democracia brasileira, não põe em alerta apenas as comunidades cigana e negra – esta última, inclusive, representada pelo congolês Moise, assassinado por fascistas no Rio de Janeiro e pelo qual ainda não houve justiça -, diariamente marginalizadas no Brasil e no mundo. A fala de Monark atinge também a Palestina e todo seu povo, dá eco ao “hasbará” (propaganda em hebraico) sionista, que se fortalece de seus atos, ademais criminosos, para acelerar sua agenda, como bem definiu outro Levy, o colunista Gideon Levy, editor do israelense Haaretz quando, citando o relatório recente da Anistia Internacional sobre o apartheid sionista de Israel, denunciou:
“O mundo continuará a lançar a invectiva, Israel continuará a ignorá-la. O mundo dirá apartheid, Israel dirá antissemitismo. Mas as provas vão continuar se acumulando. O que está escrito no relatório não é antissemitismo, mas ajudará a fortalecê-lo. Israel é o maior motivador de impulsos antissemitas no mundo de hoje.”
Então, jovem Monark, aceite de bom grado o convite do Museu do Holocausto de Curitiba. Aproveite e visite o Museu da Escravidão e conheça um crime de extermínio que continua em curso com seus “apagamentos” no Brasil. Não esqueça de conhecer também o Museu Cigano e o “Porrajmos”, o extermínio dos sinti-roma sob o nazismo. E compreenda de uma vez que falas como a sua repercutem para além de nossas fronteiras e permitem legitimar não só aquele nazismo, mas também este que paira sobre o Brasil e aquele que dizima milhares de vidas palestinas.
E se depois de tudo isso ainda não tiver compreendido o que é o nazismo e todos os demais holocaustos que dizimaram dezenas de milhões de vidas, da escravidão aos coloniais, vá à Palestina, que é o maior campo de concentração já construído e que tem por “guardas” os sionistas, abrigados no maior gueto da história, feito pelos próprios, em forma estatal, a que denominaram Israel.
Jeanderson Mafra é graduado e mestrando em Letras com ênfase em Estudos de Linguagem e Discurso, membro da Sociedade de Cultura Latina do Brasil (MA), escritor e poeta maranhense.
¹ Isaac Deutscher. O judeu não-judeu e outros ensaios.
² Naum Goldmann. O Paradoxo judeu.
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