Por Claudia Weinman, para Desacato. Info.
O Padre Reneu Zortea da Paróquia São Miguel Arcanjo, de São Miguel do Oeste, interior do estado Catarinense, têm sido ‘acusado’ de defender indígenas, mulheres, negros, pobres e marginalizados pela sociedade. Uma moção de repúdio à homilia feita por ele na última semana, onde ele faz a defesa da Democracia e do povo Brasileiro, foi levada para votação na Câmara de Vereadores na noite de ontem, terça-feira, dia 17, e foi rejeitada pelos Vereadores da casa, com voto favorável apenas do Vereador Raul Gransotto (PSDB), autor da moção.
A Câmara de Vereadores foi ocupada por diversas lideranças de movimentos sociais, pastorais, Igreja, Sindicatos, Partidos políticos, Frente Brasil Popular, que manifestaram posicionamento contrário ao Vereador Raul Gransotto. Cartazes e bandeiras foram levados em forma de manifestação passiva para acompanhar a votação em plenário.
Vereadores votam contra à “moção de repúdio”
A Vereador Maria Tereza Capra (PT) foi a primeira a votar contra a moção de Gransotto. Em sua fala, ela enfatizou que cada pessoa possui a sua fé, a sua crença e que a Câmara de Vereadores não é espaço para debater religião. “Nós Vereadores estamos impedidos constitucionalmente de discutir assuntos de religião. Desde 1789 quando a Revolução Francesa foi exercida, houve a separação entre Igreja e Estado. Em 1988 a Constituição Federal determinou que o Estado Brasileiro é laico, então, sugiro, que se alguém tiver assuntos de Igreja para discutir, deve fazê-lo da porta da igreja para dentro. Que vá conversar com o Bispo, com o Papa. A Câmara não é local para discutir assuntos de religião”.
O Vereador Cláudio Barp, (PMDB), também foi contrário à moção. “Vieram me perguntar de que lado eu estava. Não precisam ter medo. Tranquilo. Pela minha fé, pela religião que meus pais e avós ensinaram, pela vivência na comunidade, pela honestidade, pois gosto de olhar no rosto das pessoas e não fazer como muitos fazem de virar a cara, pela minha coerência, fidelidade que tenho, sou contra essa moção”.
Gilberto Pedro Berté (PMDB), também votou contrário. “É muito difícil estar aqui. Fui uma pessoa muito bem educada, vou votar com a minha consciência, e vou votar contrário, sei o caminho que quero seguir, sou católico, não concordo com muitas coisas, mas vou votar com a minha consciência”.
O Vereador Juarez da Silva (PT), enfatizou seu apoio ao Padre Reneu Zortea e destacou: “Quero dizer ao Padre que estamos com ele, a sociedade não pode ser representada por Fascistas, esses, que não representam a vontade soberana do povo”. Da mesma forma e sem argumentar muito, os vereadores Idemar José Guaresi (PR), José Jair Giovenardi (PR) e Vanirto José Conrad (PDT), votaram contrários à moção.
“Esse é o início do processo de retirada do Padre, queremos que ele reze missa e não fale em Sem Terra ou qualquer outra coisa” – Raul Gransotto (PSDB)
Sem o apoio dos colegas Vereadores, Raul Gransotto (PSDB) foi o único a votar favorável à moção de sua própria autoria. No espaço de fala que teve, Gransotto recebeu vaias da comunidade migueloestina após fazer falas preconceituosas contra os movimentos sociais que estavam manifestando seu apoio ao Padre Reneu Zortea. “Esse é o início do processo de retirada do Padre. Queremos que ele reze missa e não se fale em Sem Terra ou qualquer outra coisa, esses movimentos sociais que servem para morder a gente e quebrar o país”.
Jovens sofrem ataques homofóbicos durante sessão
Quando o Vereador Raul Gransotto iniciou sua fala, em forma de manifestação, a comunidade migueloestina virou ás costas para o Vereador e levantou faixas em apoio ao Padre. Um dos jovens foi chamado de “Bixa, viado do PT” por uma pessoa que estava acompanhando a sessão. Outro jovem negro, que foi fazer a defesa de seu companheiro, foi chamado de “Nego Sujo” e a partir disso, iniciou-se uma discussão na Câmara de Vereadores. Sob orientação de advogados, os jovens devem prosseguir registrando um Boletim de Ocorrência para a tomada das providências cabíveis.
Os jovens também foram escoltados pelo Departamento Jurídico da Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste. Receberam acompanhamento ao final de sessão para irem até suas casas, tudo, acompanhado e orientado pelo Jurídico da Câmara para garantir a segurança da juventude.
Enquanto parte da Imprensa local segue divulgando que os movimentos, pastorais, sindicatos e lideranças de diversas organizações foram à Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste para fazer “Confusão”, o Portal Desacato, que acompanha atento essas movimentações, segue registrando a verdade, e levando até os leitores\as a Outra Informação. Fiquem com a gente, e com o Jornalismo de Resistência.