Quando, em fins de 2012, combatentes do antigo movimento rebelde moçambicano – hoje partido oposicionista Renamo – foram para as montanhas de Gorongossa, região central do país, receber treinamento militar, já ficou claro que a paz de duas décadas estava ameaçada. No dia 21 de outubro, ao escapar de ataque do exército do país ao seu quartel-general militar, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, declarou que seu partido estava abandonando os acordos de paz de 1992.
Já o presidente moçambicano, Armando Guebuza, declarou na quinta-feira (31/10) que o país não voltaria à guerra. Mas, um dia depois, forças governamentais da Frelimo invadiram a casa de Dhlakamana, importante cidade portuária de Beira, na costa do Índico.
Análises apontam responsabilidades dos dois lados. Os erros da Renamo, mais especificamente de seu líder, seriam de longa data, segundo o especialista no país Dr. Joseph Hanlon, professor visitante da London School of Economics. Para ele, Dhlakama falhou em converter o antigo movimento de guerrilha em partido político efetivo, por sua liderança ditatorial e fracas habilidades de negociação – perdendo assim a oportunidade de se tornar parte relevante do processo de transição democrática de Moçambique.
Porém, é possível dizer que a Frelimo também tem sua parcela de culpa, ao deixar de realizar uma reforma política e tornar-se o partido dominante durante mais de 20 anos. O jornalista sul-africano Ozias Tungwararaobserva que, por mais que a Renamo e seu líder não sejam “santos” – por suas ligações passadas com os regimes racistas da Rodésia e África do Sul –, “a Renamo, de fato, assinou um tratado de paz que tirou o país de um abismo e o dividendo da paz tem sido um fator essencial nos progressos econômicos e sociais de Moçambique”. E completa: “enquanto os enormes erros eleitorais da Renamo não podem ser atribuídos simplesmente ao campo político desigual, a Frelimo deveria promover uma reforma para inclusão política”.
O que continua sendo unanimidade é que absolutamente ninguém – a população, países vizinhos e os próprios partidos – quer um novo conflito armado no país. Contudo, considerando-se as recentes declarações de Dhlakama e as ações do exército de Guebuza, não há solução de curto prazo à vista.
Fonte: Outras Palavras.