As manifestações de rua têm sido a tônica da sociedade brasileira neste
início de governo Bolsonaro. Um governo que cultiva o ódio, a intolerância e a
desinformação. A violência e a guerra são aspectos sempre presentes nos
valores desse governo e seus apoiadores.
Por Douglas Kovaleski, para Desacato.info.
No último sábado, 26 de maio, o Brasil foi palco de uma cena pífia, porém triste: o ato em apoio ao governo.
Um significativo corte nos recursos da educação foi anunciado no início
de maio sob os argumentos de ajuste fiscal, de correção das contas públicas
devido à previsão cada vez mais fraca do PIB e a necessidade de combate aos
comunistas, que estariam utilizando a Universidade Pública como espaço de
dominação ideológica. Aí vem a influência de Olavo de Carvalho, uma raposa
que sequer está no Brasil. Alguém que recebe processo de uma de suas filhas,
pois não permitiu que ela e nenhum dos seus filhos frequentasse os bancos
escolares. Afinal, para homem de tanta “sapiência”, as escolas são espaços de
dominação ideológica da esquerda. Ou melhor, espaço dos comunistas, palavra
que produz ódio em uma parcela significativa da população que foi adestrada
para isso, mas que sequer sabe o que é o terrível e abominável comunismo.
É nesse nível de debate que a sociedade brasileira segue, em meio a
ignorantes radicais, grupos religiosos, grupos econômicos e algo que se
aproxima de aceitação do imperialismo, mas sugere humilhação. O sábado
demonstrou o quanto o governo Bolsonaro perdeu força, pois as manifestações
foram pouco numerosas, em um número de cidades pouco expressivo, mas a
principal derrota do governo se deve ao aspecto qualitativo das manifestações:
a imensa maioria dos manifestantes entrevistados pela mídia não sabiam
porque exatamente estavam lá, ao serem questionados balbuciavam algumas
falas desconexas em favor da reforma da previdência, contra a corrupção, a
favor de Sérgio Moro, contra os poderes legislativo e judiciário, mas
principalmente contra o PT e os petistas. O PT que virou fixação desse grupo
que não compreende a política, nem a história e pior, não pretende
compreender.
Apesar da gritante derrota que as manifestações de sábado foram para
o governo, o principal derrotado foi o povo brasileiro. Assistimos um show de
horrores, onde o presidente foi chamado de “mito”, “meu capitão”, onde Moro
aparece como o Super Homem. Assistimos a um país dividido, ignorante e onde
essas pessoas dotadas de uma desinformação gritante ainda têm coragem de
se manifestar. O país ficou explicitamente dividido, o ódio foi alimentado e a
solidariedade deixada de lado, ou seja, seguimos no caminho já percorrido
pelos governos facistas, onde o apoio popular precisa ser testado com
frequência, da mesma forma que Mussolini e Hitler faziam.
Apesar da convergência das análises, que deixaram claro o fracasso das
manifestações, acompanhei tudo pelas mídias e terminei o dia muito triste por
ver que no Brasil temos que conviver com pessoas desse nível. Machistas,
racistas, homofóbicas, que ostentam bens materiais e cultivam o ódio estão nas
ruas, precisando amparo e orientação, não alimentemos esse grupo com mais
ódio. A conjuntura nos impõe uma pauta fraterna, do amor, onde precisamos
trabalhar muito na educação, na compreensão da história, no hábito da leitura
e no bem viver.
Imagem de capa tomada de Twitter e publicada como sendo do domingo 26 de maio, pelo presidente Jair Bolsonaro, pertencente a dona Nina Rattes, falecida em novembro de 2018.
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
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