Mistério. Por Roberto Liebgott.

 

Há uma porta
Parece aberta
Atrás dela
Nada se vê
Está somente aberta

Ela não se abriu
Abriram-na
Para me observar
E buscar entender
O que eu fazia lá

Na luz tudo se via
O sol, depois das chuvas,
Irradiava o azul do dia
O verde das plantas
E os semblantes

Sorrisos do lado de fora
Crianças corriam e riam
Mulheres teciam
Os cachorros, tantos,
Felizes latiam

A comunidade voltou
O tempo ruim
Molhou, passou
E trouxe de volta
A solidariedade

A porta,
Ficou – ali – aberta
Atrás dela
O escuro
Mistério

É a Opy – lugar da reza
Do som sagrado
Das puras
Palavras
Dos Mbya Guarani

Na tekoa
A vida – outras vez-
Se refazendo
Contra os males
Dos juruá – brancos

Não ao Marco Temporal
Demarcação já

Porto Alegre, 17 de setembro de 2023

Roberto Liebgott

Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.

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