A Venezuela tem novo presidente!
O pouco conhecido, mas jovem e promissor Juan Guaidó é o novo chefe de Estado venezuelano.
Lamentavelmente, o legítimo presidente Guaidó, reconhecido pela comunidade internacional, está tendo algumas dificuldades para assumir o poder de maneira efetiva.
A Venezuela tem novo presidente!
O pouco conhecido, mas experiente e promissor Edmundo González Urrutia é o novo chefe de Estado venezuelano.Lamentavelmente, o legítimo presidente González Urrutia, reconhecido pela comunidade internacional, está tendo algumas dificuldades para assumir o poder de maneira efetiva.
Um momento…
Sou eu? Ou vocês também estão tendo uma sensação do tipo “dejá vu”?
ELEIÇÕES NA VENEZUELA: USAR A MEMÓRIA PERANTE A INCERTEZA
Tradução e legendas: Jair de Souza
Parece que isso de se autoproclamar presidente está se convertendo no esporte venezuelano mais popular, juntamente com o baseball. Ou até mesmo ainda mais!
Se, em 2019, Juan Guaidó se autoproclamou chefe de Estado subindo a um palanque em uma praça, nesta ocasião, Edmundo González deixou-o subentendido em um comunicado, uns dez dias após a realização das eleições presidenciais.
Em 28 de julho se realizaram as eleições presidenciais na Venezuela, com a presença de uma dezena de candidatos, dos quais, conforme as pesquisas, só disputariam pela vitória Nicolás Maduro e Edmundo González. Este último bancado por aquela que se considera a líder da oposição, María Corina Machado.
Após uma tensa espera, o Conselho Nacional Eleitoral, por volta da meia-noite, anunciou que o atual mandatário havia vencido com algo mais de 50% dos votos, seguido do principal candidato opositor, com cerca de 45%.
A oposição desconheceu esse resultado e anunciou que, conforme os seus dados, o vencedor teria sido Edmundo González, com por volta de 70% dos votos. Em questões de horas, começaram a promover uma página na internet na qual anunciaram que publicariam as atas com os resultados por mesas.
Conforme funciona o sistema eleitoral venezuelano, que é automatizado na quase totalidade dos centros de votação, os resultados são enviados a um centro nacional de computação, e além disso, são impressos em atas de papel em cada sede de votação, que são entregues a funcionários e testemunhas de cada mesa como garantia.
Por sua vez, o CNE denunciou que sua página web e o sistema de transmissão haviam sido atacados ciberneticamente e, por isso, não haviam podido publicar os resultados mesa por mesa, como em eleições anteriores.
Em meio a denúncias entrecruzadas entre o governo e a oposição, a violência nas ruas e a incerteza, o presidente venezuelano apelou ao Supremo Tribunal de Justiça para que mediasse na situação.
O máximo órgão judiciário da Venezuela convocou a todos os partidos e ao ente eleitoral para que entregassem as atas que cada um dispunha, para compará-las entre si e determinar sua validade. Essa instrução foi acatada por todos, exceto pelos partidos que apoiam Edmundo González.
Várias das reações internacionais, longe de apaziguar os ânimos, jogaram gasolina no fogo.
A Casa Branca anunciou que considerava que o candidato opositor havia vencido a votação. E, ao mesmo tempo, foram bastante ambíguos na hora de esclarecer se já o consideravam, ou não, o presidente do país.
Talvez, um reflexo do choque traumático do pós-Guaidó.
A União Europeia declarou que não outorgava credibilidade aos resultados dados pelo ente oficial. Alguns governos latino-americanos seguiram uma linha similar. O que provocou várias rupturas de relações diplomáticas por parte de Caracas. Entre elas, Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai.
Até Elon Musk se meteu na questão, tomando abertamente partido a favor do candidato opositor, tanto a nível pessoal, como se aproveitando do alcance da plataforma X, antes conhecida como Twitter.
Por outro lado, vários governos regionais, como os de Cuba, Bolívia e Nicarágua, felicitaram a Nicolás Maduro, assim como fizeram pesos pesados geopolíticos, como a Turquia, o Irã, a Rússia e a China.
Por sua vez, Brasil, Colômbia e México estão tratando de levar adiante uma espécie de trabalho de mediação entre o governo venezuelano e o setor opositor agrupado ao redor de Edmundo González.
Até o momento de gravar este vídeo, continuava havendo um certo grau de incerteza sobre o que vai ocorrer nos seguintes dias e semanas. Neste sentido, é importante ressaltar que, legalmente, o CNE tem 30 dias de prazo para publicar os resultados desmembrados.
Quer dizer, embora o atraso em desmembrá-los provoca uma compreensível desconfiança em muitas pessoas, desde um ponto de vista legal, não terá transcorrido um lapso suficiente para que constitua uma violação à lei eleitoral venezuelana.
A polêmica ainda está muito viva. As perguntas e assinalamentos voam de lado a lado. E a falta de atas oficiais validadas por todos os setores de forma pública dá vida a todo tipo de rumores.
No entanto, existe um antídoto contra a impaciência que, logicamente, surge em ocasiões assim: A memória.
Porque não é a primeira vez que a Venezuela vive tensões eleitorais de alta voltagem. E, de fato, já vivenciou outras até piores.
Em 2004, foi realizado um referendo revocatório para determinar se Hugo Chávez deveria ou não continuar na presidência. E, diante da decisão majoritária para que o presidente continuasse, a oposição gritou fraude e levou dois anos para retomar o caminho eleitoral.
Nas eleições de 2013, as primeiras em que Nicolás Maduro se apresentou, diante de sua vitória apertada, seus rivais promoveram protestos contra o que consideravam uns resultados fraudulentos.
Em 2018, as forças opositoras não se apresentaram para as eleições, acusando-as de ilegítimas. E, no ano seguinte, disseram que, portanto, o presidente legítimo era Juan Guaidó, por então, o chefe da Assembleia Nacional.
Nunca é demais ressaltar que o hoje esquecido ex-deputado chegou a presidente do órgão máximo legislativo venezuelano em 2015, depois da vitória eleitoral opositora, anunciada e avalizada pelo CNE, ao qual haviam acusado de fraudulento dois anos antes, e voltariam a acusar de fraudulento três anos depois.
Quer dizer, a dinâmica que se apresenta hoje, com suas coincidências e diferenças, é conhecida de sobra pela população venezuelana, independentemente de como a enfoque cada um, de acordo com sua preferência política.
A leitura geopolítica, em termos gerais, continua sendo a mesma. Aqueles que, de fora da Venezuela, deram força ao projeto Guaidó há cinco anos, até que foi desinflado e abandonado, dissimuladamente e sem pedir desculpas, hoje estão apoiando, com a precaução lógica de quem sofreu uma decepção recentemente, as aspirações de Edmundo González de assumir a presidência.
Reconhecer e processar esta mais que coincidência não implica ser partidário ou simpatizante do governo venezuelano, e sim ter a capacidade de analisar o que está em jogo nesta eleição a nível de política internacional.
Ainda existem fios desencapados nesta história. E, previsivelmente, vários nós irão sendo desatados nos dias e semanas que estão por vir.
Entretanto, aconteça o que acontecer, ante a repetição dos mesmos atores externos, os mesmos interesses e, com seus matizes, a mesma estratégia de sempre, tudo indica que estamos assistindo à enésima reapresentação de um velho roteiro que, não por repetido e fracassado, deixa por isso de ser a opção predileta de seus autores.
Tradução ao português e legendas:
JAIR DE SOUZA