Por Fania Rodrigues.
Elías Jaua era o vice-presidente da República da Venezuela quando o ex-presidente Hugo Chávez recebeu o diagnóstico de um câncer, em junho de 2011. Homem de extrema confiança de Chávez, Jaua sempre fez parte do primeiro escalão do governo e hoje é ministro da Educação do país. Em 2013, como ministro de Relações Exteriores, visitou Chávez três vezes em Cuba, onde ele se tratava do câncer que o levou a morte em 5 de março desse mesmo ano. Cinco anos depois, Jaua revela, com exclusividade ao Brasil de Fato, como foram os últimos dias do ex-presidente venezuelano, as conversas que tiveram e quais eram as principais preocupações de Hugo Chávez.
“Durante minha primeira visita, no início de janeiro, falamos muito sobre o futuro da Venezuela. Chávez tinha a preocupação de que os Estados Unidos tivessem a intenção de nos levar a um cenário parecido ao da Síria e da Líbia. Ele dizia que teríamos que evitar cair em provocações, fazer todos os esforços para manter o caráter pacífico e democrático da Revolução Bolivariana”, recorda.
Segundo Jaua, o ex-presidente via nos organismos regionais uma saída para fortalecer os países latino-americanos. “Chávez me pediu que trabalhasse duro para que não houvesse uma debilitação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul)”, ressalta.
Preocupação interna
No entanto, a conjuntura da Venezuela era o tema que mais preocupava o líder venezuelano em seus últimos dias. “No final de janeiro de 2013, tivemos outra conversa. Ele estava bem, porém preocupado. Fez muitas perguntas sobre a política na Venezuela. Pediu que escrevesse um resumo de como eu vinha o cenário nacional. Ele estava muito apreensivo com o tempo eleitoral uma vez que sua morte demandaria a realização de um novo pleito”, destaca Jaua.
O ministro relata que Chávez parecia estar consciente que de estava em uma situação dramática e o pior cenário era o mais provável. Na ocasião, Chávez desenhou três cenários possíveis: “Um deles é que eu supere tudo isso, fique vivo e continue a frente do governo. O outro é sobreviver, mas ficar com sequelas e incapacitado para governar. E o último é morrer”. Nesse momento, Jaua conta que o ex-presidente teria feito “uma confissão humana”. “Creio que o terceiro é o cenário mais provável”, disse Chávez, “e vocês precisam se preparar para isso”, concluiu, segurando a mão do ministro, que o acompanhara na política desde 1996.
A ideia da morte, no entanto, não o assustava. “Se isso ocorrer, eu vou muito tranquilo. Desejaria esse final para o libertador Simon Bolívar, morrer rodeado de companheiros como vocês, com minhas filhas, morrer querido pelo meu povo. Quero morrer no meu país. Vou preparar tudo para voltar a Venezuela. Qualquer que seja o cenário que aconteça na Venezuela”, afirmou Chávez ao ministro.
“Agora é com vocês. Apoiem a Nicolás como apoiaram a mim”, pediu o ex-presidente, encerrando sua última conversa sobre política com Jaua.
O ministro voltaria a conversar com o ex-presidente, um dia antes de sua volta à Venezuela, no dia 16 de fevereiro. Entretanto, foi sobre questões práticas. “Foi uma conversa técnica, sobre uma tarefa que cumpri em outros países, vendo alguns tratamentos. Voltei e expliquei a ele”, relembra Jaua.
“O comandante se foi”
Além do câncer, o ex-presidente Hugo Chávez havia contraído uma infecção respiratória. Fumante por muitos anos, ele tinha o pulmão fragilizado. Com o tratamento agressivo contra o câncer o organismo estava ainda mais debilitado e se tornou um ambiente propício para infecções.
Em 21 de fevereiro de 2013 o então ministro da Comunicação, Ernesto Villegas, atual ministro da Cultura, informou em cadeia nacional que Chávez padecia de uma insuficiência respiratória. Depois disso, os boletins médicos lidos pelos porta-vozes do governo relatavam apenas o agravamento gradual da saúde do líder venezuelano.
Na época, a imprensa venezuelana e meios de comunicação estrangeiros publicaram versões divergentes sobre a sobre a morte de Hugo Chávez. Alguns meios afirmavam que o presidente teve uma morte cerebral dias antes – e que os aparelhos que o mantinham vivo haviam sido desligados, com a autorização da família. Essa versão foi desmentida pelo ministro Elías Jaua. “No dia em que morreu nós o vimos, mas ele já estava inconsciente, em um coma induzido. Estávamos na sala de espera quando vimos o corre-corre de médicos. Nesse momento veio o chefe e nos avisou. ‘O comandante se foi’. Assim foi, aquele 5 de março, às 16h25 da tarde”, relata.
Batalha contra o câncer
Entre o primeiro diagnóstico de câncer e a morte do ex-presidente Hugo Chávez, passaram-se menos de dois anos. Os sintomas iniciais apareceram maio de 2011, com uma inflamação do joelho. Em junho de 2011, um tumor foi detectado na região pélvica e Chávez passou pela primeira cirurgia em Cuba.
Em setembro do mesmo ano, foram feitos novos exames e o câncer havia desaparecido. No entanto, em fevereiro de 2012 aparece pela segunda vez um tumor na mesma região. “2012 foi um ano muito complexo para todos nós que trabalhamos com o comandante Hugo Chávez. Quando aparece pela segunda vez o câncer, tivemos que encarar o fato de que o comandante estava enfrentando um momento difícil”, destaca Jaua.
Começa então uma verdadeira corrida contra o tempo. Era ano eleitoral e o presidente começava um novo tratamento. Cirurgia, depois quimioterapia e radioterapia. “Teve um dia que estávamos em seu escritório e Chávez nos disse: ‘Tenho dois motivos para viver, pelo menos mais esse ano. Ficar com minhas filhas e ganhar as eleições para que a oligarquia não volte a sentar aqui”.
Seu opositor nessa época era o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles. Um jovem, com energia para percorrer o país e fazer longos discursos. Do outro lado um Chávez doente e em tratamento. “Foi uma campanha heróica. Entre imensas dores e o tratamento de quimioterapia conseguimos coroar a vitória em outubro de 2012”.
No encerramento dessa campanha, o ex-presidente venezuelano foi recebido por uma multidão no centro de Caracas. Mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas escutar aquele que seria o derradeiro discurso público do líder da Revolução Bolivariana. Entre chuva e pétalas de flores apareceu o candidato à presidência. Ele sorriu, cantou, dançou e discursou. Parecia uma despedida. E era. Até hoje as imagens desse dia são reproduzidas na Venezuela.
Porém, poucas semanas depois, a saúde de Chávez começou a se deteriorar novamente. Em novembro de 2012 foi identificada uma terceira reincidência do câncer. Com o organismo frágil, depois de ter sido submetido à três cirurgias, já era real a possibilidade que a doença pusesse um fim à vida do comandante da Revolução Bolivariana.
No dia 8 de novembro de 2012, Chávez faz seu último pronunciamento público em cadeia nacional de rádio e televisão e indica Nicolás Maduro como seu herdeiro político. Um mês depois de sua morte, em abril de 2013, Maduro foi eleito presidente da República.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira
E tememos por Lula. Até um simples aparelho de RX ligado do outro lado da parede da solitária onde se encontra injustamente , pode induzir um câncer.