O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse à BBC Brasil que quem defende um sistema de saúde que atenda todos “são ideólogos, não são técnicos, nem especialistas”. A pergunta era se a proposta que está sendo elaborada pelo ministério – de mais planos privados mais baratos – não enfraqueceria o Sistema Único de Saúde (SUS). Para Barros, com o recurso limitado do sistema, seria uma incoerência. “Não é um sonho, nós temos que administrar uma realidade aqui”, afirmou.
A reportagem da BBC citou o autor do livro O que é o SUS, o professor da UFBA Jairnilson Paim, que tem criticado as propostas do atual ministério do governo Temer por sinalizar que vai restringir o sistema de saúde aos mais pobres. Para Paim, o maior desafio para o financiamento do SUS é “político”. “Ou conseguimos ampliar as bases de sustentação para um sistema de saúde universal, ou cada governo que estiver de plantão vai tirar um pouco do que já conquistamos”, disse em entrevista também à BBC.
A resposta do ministro foi a seguinte: “Ele está falando de uma ideologia, do pensamento, do sonho, e não está falando da realidade. Não são técnicos, nem especialistas, são ideólogos que tratam o assunto como se não existisse o limite orçamentário, como se fosse só o sonho”.
Barros também falou sobre o grupo de trabalho dentro do ministério que tem se dedicado a elaborar o novo produto a ser colocado no mercado pelas empresas de plano de saúde. Vale lembrar que Barros, eleito deputado federal pelo PP em 2014, teve como maior doador individual de sua campanha o empresário Elon Gomes de Almeida, presidente da Aliança, administradora de planos de saúde, com uma contribuição de R$ 100 mil.
Após a publicação da reportagem da BBC, provavelmente por conta de sua repercussão negativa, o ministério enviou nota onde diz que “o ministro não afirmou que ‘saúde para todos é ‘sonho’, mas explicou que tudo para todos requer financiamento e apontou que o STF (Supremo Tribunal Federal) analisa em julgamento em curso como harmonizar os direitos constitucionais de acesso à Justiça, da integralidade da saúde e da capacidade contributiva do cidadão. (…) Barros rebateu a informação de que técnicos defendem que o sistema deveria ser totalmente público, contrariando a própria constituição, que prevê a saúde suplementar”.
Declarações polêmicas
Desde que assumiu o cargo, Barros tem negado declarações que costumam ter repercussão negativa. Em maio, por exemplo, concedeu uma entrevista à Folha de S. Paulo, onde disse que “O tamanho do SUS precisa ser revisto”. Em seguida, ele negou.
Outra declaração polêmica foi dada em evento na sede da AMB (Associação Médica Brasileira), em São Paulo, onde disse que os pacientes imaginam doenças. “A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao atendimento primário com efeitos psicossomáticos”, afirmou. “Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários só para satisfazer as pessoas, para elas acharem que saíram bem atendidas do postinho de saúde.”
E ainda, em agosto, o ministro disse que “homem procura menos os serviços de saúde pois trabalha mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para se dedicar à saúde preventiva”. Em seguida, ele tentou se explicar e disse que foi mal interpretado.
Ricardo Barros também recorreu a fé para responder sobre a lei aprovada no Congresso Nacional que liberou o uso da fosfoetanolamina para combate ao câncer, mesmo sem comprovação clínica de eficácia. “Na pior das hipóteses, tem o efeito placebo. A fé move montanhas”, disse. E ainda declarou que quer as igrejas no debate sobre aborto no país.
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Fonte: Revista Fórum.