No último mês, mais de 30 coletivos, partidos políticos, associações e centrais sindicais assinaram uma carta em que pediram a exclusão da empresa israelense ISDS (International Security and Defense Systems) das operações de segurança dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, sob acusações de que a firma estaria ligada a uma série de violações de direitos humanos em territórios palestinos.
Em resposta, a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça (Sesge/MJ) argumentou no dia 8 de abril que “não há qualquer relação comercial entre a Sesge/MJ e a empresa multimencionada [ISDS]”. O texto integral da negativa de negócios entre o governo brasileiro e a firma israelense foi divulgado pelos movimentos sociais na última sexta-feira (24/04).
Efe
Veículo blindado israelense patrulha região das Colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel desde 1967
“Para nós o boicote dessa empresa é paradigmático: Israel desenvolve suas metodologias e tecnologias na matança e repressão do povo palestino para depois vendê-las em todo o mundo. O fim das relações militares e de segurança com Israel é um ato de defesa não somente do povo palestino. É um ato de defesa da humanidade”, comentou Jamal Juma, coordenador do movimento palestino Stop the Wall.
“Saudamos o fato de o Governo Brasileiro afirmar categoricamente que não tem nenhuma conexão comercial com a ISDS. Esperamos que isso permaneça e que companhias similares não sejam contratadas. É importante que o Brasil caminhe rumo a um embargo militar completo a Israel”, afirmou Mahmoud Nawajah, coordenador geral do BNC (Comitê Nacional Palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções).
Entenda o caso
Na carta encaminhada à Coesrio 2016 (Comissão Estadual de Segurança Pública e Defesa Civil para os Jogos) em março passado, movimentos sociais alegaram que a ISDS é “uma empresa que desenvolve suas tecnologias e atividades comerciais em cumplicidade com as violações de direito internacional de Israel e que exporta ao mundo equipamentos, sistemas e conceitos que foram testados nas práticas de ocupação, apartheid e limpeza étnica do povo palestino por parte de Israel”.
Em outubro de 2014, a ISDS havia anunciado internacionalmente ter sido escolhida pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos para coordenar a segurança do evento, uma operação avaliada em de 2.2 bilhões de dólares. Contactada por Opera Mundi no mês passado, a representação brasileira da empresa disse que não tinha nada a declarar.
O movimento de boicote da sociedade civil se inspira em modelos como a decisão do governo do Rio Grande do Sul que, em dezembro de 2014, suspendeu um contrato com a empresa israelense Elbit Systems. Na ocasião, o governo gaúcho desistiu da parceria com a principal corporação bélica israelense para a criação de um polo aeroespacial no Espaço.
Em novembro passado, documentos disponibilizados pelo Ministério da Defesa após requerimento de informações do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), sobre as atuais relações do Brasil com Israel e suas empresas militares, revelam que os contratos bilaterais chegam a quase R$ 1 bilhão.
Opera Mundi teve acesso a esses documentos, que confirmam o fluxo comercial com empresas israelenses, embora as autoridades brasileiras neguem que exista uma cooperação militar de fato em vigor com Israel. O material foi solicitado à época da operação “Margem Protetora”, ofensiva contra o grupo islâmico Hamas na Faixa de Gaza que resultou na morte de mais de 2.000 palestinos e 71 israelenses, durante cerca de 50 dias de conflito.
Fonte: Opera Mundi.