Por Carlos Lindenberg.
Os mineiros acompanham com vivo interesse a disputa interna que grassa no interior do PSDB paulista. Não é surpresa para ninguém, embora os envolvidos neguem, que verdadeira guerra de foice é travada pelo senador Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin, o senador José Serra e agora, correndo por fora, o “enfant terrible” João Dória, prefeito da capital São Paulo. Dória, de fato, não deixa de ser um personagem que chama a atenção: chegou à Prefeitura pelas mãos do governador Geraldo Alckmin, a quem lançou de imediato como seu candidato à presidência da República, mas ultimamente já não é tão enfático quando lhe falam da corrida presidencial de 2018. Prefere aquele sorriso maroto, quase sempre fotografado de lado – o direito, de preferência.
Mas o que preocupa os tucanos mineiros, de modo especial, é a posição do senador Aécio Neves, sua maior estrela. É verdade que nenhum presidenciável dentre os tucanos escapou da lista de Janot, nem mesmo o até então inimputável Geraldo Alckmin. Numa peneirada só entraram na lista Aécio, Alckmin e Serra, além de outros tucanos, sobrando até agora João Dória. Mas para os mineiros, João Dória nunca foi levado em conta. Nem mesmo Serra. O perigo era ou ainda é o governador Geraldo Alckmin.
Praticamente dono da legenda em São Paulo, Alckmin já foi candidato à presidência da República em 2006, perdendo para Lula no segundo turno. Essa derrota não foi assimilada pelo governador paulista, que na eleição seguinte apoiou José Serra contra Dilma Rousseff, apoiou Aécio, com alguma relutância, em 2014 e agora parece não abrir mão da disputa de 2018, com algum travo ainda da derrota de 2006, quando Aécio em Minas não teria se empenhado a fundo pela sua candidatura e ainda permitiu que se criasse no Estado o voto lulécio – o voto em Lula para presidente e em Aécio para governador, obtendo ambos a vitória, com números que devem intrigar Geraldo Alckmin até hoje: num estado governado por um tucano, Lula obteve 50,10 por cento dos votos dos mineiros e Alckmin 40,62. Como Aécio se elegeu com 70 por cento dos votos, os paulistas atribuem a vitória de Lula em Minas ao voto lulécio.
De maneira que, desde então, os mineiros estão sempre acompanhando os passos do governador Geraldo Alckmin, especialmente Aécio, que não tem nenhuma preocupação com José Serra. O fato de agora, tanto Serra, como Aécio e o próprio Alckmin aparecerem na lista de Janot parece igualar os três nesse debate que deriva dos efeitos da Lava Jato na eleição de 2018. Mas ainda aí Alckmin leva pequena vantagem. Ele só poderá ser processado se a Assembleia Legislativa de São Paulo autorizar, como tem sido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Aliás, o que seria a mesma situação do governador de Minas, Fernando Pimentel, se a Constituição do Estado de Minas Gerais não fosse diferente da paulista neste ponto. De qualquer forma, a votação da matéria no STF está empatada e na dependência do voto do recém-nomeado advogado de Temer, Alexandre Moraes, para a vaga do ministro Teori Zavascki. Ele poderá desempatar se o STJ precisa ou não ter autorização da Assembleia de São Paulo para processar o seu governador. Certamente Aécio e a tucanagem de Minas torcem para que o novo ministro desempate pela não dispensa da consulta – o que deixaria em situação confortável Geraldo Alckmin, mas ainda assim com a mancha da delação da Odebrecht e com explicações a dar ao eleitor.
É nessa “gata parida” que entra o enfant terrible da “nova politica” brasileira, o prefeito de São Paulo, João Dória. Com uma folgada vitória sobre Fernando Haddad em 2016, João Dória vem fazendo pouco, mas aparecendo muito, o que não é surpresa desde que se sabe que ele é, sobretudo, um profissional de marketing. O estilo, no entanto, agrada a classe média paulistana, que acompanha em detalhes a movimentação de João Dória e já o saúda como uma nova liderança em São Paulo. Isso bate nas lideranças clássicas paulistas como um ponto de reflexão e espanto – mais de espanto do que propriamente de reflexão – e assusta também os tucanos mineiros que, no entanto, no seu estilão, acham que Dória é apenas fogo de palha e que o perigo mesmo vem de Geraldo Alkmin – o mesmo adversário interno de 2010, agora, no entanto, mais maduro e dispensado do voto lulécio.
Os tucanos de Minas, na verdade, se sentem órfãos do ex-governador e senador Aécio Neves. Desde que se elegeu para o Senado, Aécio tem vindo pouco a Minas Gerais. E isso para os tucanos pode ser decisivo na sua busca de retomar o poder que perderam com a vitória de Fernando Pimentel sobre o candidato do PSDB, Pimenta da Veiga, em 2014. Como o governador dá sinais de que poderá vir a ser candidato em 2018 e como no campo adversário não se vê ninguém com perfil para a disputa, o PSDB mineiro já se inquieta, até porque o provável único nome que lhe resta para a disputa seria o do senador Antônio Anastasia, que, no entanto, abomina a ideia. A não ser que o próprio Aécio, no caso de perder a legenda para Geraldo Alkmin, ou quem sabe para João Dória, se anime a voltar para Minas e disputar, ele mesmo, a cadeira que já pertenceu ao avô, Tancredo, e ao próprio Aécio, no período de 2003 a 2010, quando passou o governo para o vice Anastasia e o reelegeu em seguida. Por coisas assim é que os tucanos mineiros acompanham atentamente os lances dessa disputa que divide o PSDB nacional, principalmente entre Aécio e Alckmin, mas de olho também nas estripulias de João Dória.
Fonte: Brasil 247.