Militantes do Curso Realidade Brasileira ‘incomodam’ professores durante aula pública na UFFS de Chapecó/SC

Por Claudia Weinman, para Desacato. Info. 

A Primeira aula do Terceiro Módulo do Curso Realidade Brasileira, realizada no dia 29, 30 de abril e 01 de maio, na Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) de Chapecó-SC, trouxe para a discussão o tema: “A formação do povo brasileiro e suas expressões culturais”, mediado pelo Educador Manoel Bastos.

Na sexta-feira à noite, a turma do Curso Realidade Brasileira realizou uma aula pública, envolvendo além da militância de diversas organizações populares, estudantes da universidade, para fazer uma análise sobre a conjuntura brasileira na atualidade, citando elementos históricos para expressar a necessidade de mudança e organização das massas contra o golpe que o país vive.

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Na ocasião, um professor da universidade sentiu-se incomodado com a presença das organizações e começou a provocar os estudantes enfatizando que “não estamos vivendo um golpe”. O Educador Manoel Bastos chegou a convidar o professor para fazer um diálogo democrático refletindo a sua opinião junto a turma, no entanto, o ‘desafio’ foi recusado. Diante dos xingamentos proferidos pelo professor contrário a aula pública realizada no espaço da UFFS, a qual é uma conquista popular destas organizações, a militância repudiou a ação denominando-a como um posicionamento “Fascista”, considerando que, a conquista da UFFS possibilita Educação Pública e Popular de qualidade para muitos estudantes. Graças à ela também, educadores, a exemplo desse que proferiu xingamentos, têm espaço para atuação.

Ditadura Militar –Golpe de 1964

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Leitura dos depoimentos sobre as torturas na Ditadura Militar.

No sábado pela manhã, dia 30 de abril de 2016, a aula na UFFS de Chapecó teve início com uma mística realizada pelo Núcleo de Base “Olga Benário”. A leitura dos testemunhos sobre os mais diversos tipos de violência que sofreram mulheres e homens no período da Ditadura Militar, despontou reflexão mas também muita revolta na militância, que vivencia neste 2016 um cenário de violência, de retomada Fascista, retirada de direitos na mais clara luta de classes. Em um dos depoimentos, é citada a realidade pela qual passou Rose Nogueira, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Jornalista, presa em 4 de novembro de 1969, em São Paulo (SP):

Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Na sala do delegado Fleury, num papelão, uma caveira desenhada e, embaixo, as letras EM, de Esquadrão da Morte. Todos deram risada quando entrei. ‘Olha aí a Miss Brasil. Pariu noutro dia e já está magra, mas tem um quadril de vaca’, disse ele. Um outro: ‘Só pode ser uma vaca terrorista’. Mostrou uma página de jornal com a matéria sobre o prêmio da vaca leiteira Miss Brasil numa exposição de gado. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Picou a página do jornal e atirou em mim. Segurei os seios, o leite escorreu. Ele ficou olhando um momento e fechou o vestido. Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado. Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. Eu chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões. Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas. Aí me deram muitas palmadas e um empurrão. Passaram-se alguns dias e ‘subi’ de novo. Lá estava ele, esfregando as mãos como se me esperasse. Tirou meu vestido e novamente escondi os seios. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’. ‘E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente.’ Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu fillho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro”.

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Militantes estudam e se organizam contrariando o golpe vivenciado no Brasil.

Os Tempos sombrios de uma Ditadura militar soam na voz de Deputados como Jair Bolsonaro, defensor de torturados e dessa prática que feriu, matou e deixou consequências irreversíveis em muitos militantes que lutaram incansavelmente pela vida e liberdade. Dessa forma, a turma do Curso Realidade Brasileira trouxe para o debate tais práticas para que, conforme dito, esse período não se repita na história: “Para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça”.

Noite Cultural

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Poesia e canções do povo, durante noite cultural.

‘Embriagar-se’ de poesia. Ouvir com atenção as canções dos cantadores populares que fazem refletir ânimo e coragem para a luta do povo. De repente, despontava um poeta aqui, outro/a ali, declamando a sua realidade ou a sua necessidade de expressar a vida. Esse foi o contexto da noite cultural, construída por um grupo de militantes do Curso Realidade Brasileira, que na noite de sábado, ocuparam o auditório da universidade para partilhar saberes, risos e a tão relevante diversidade de ser humano.

Dia da classe trabalhadora explorada – 1º de Maio

Falar sobre o Dia Primeiro de Maio durante a aula que traz elementos da formação do povo brasileiro e suas expressões culturais, também remete a um contexto histórico onde os trabalhadores e trabalhadoras sempre serviram de mão de obra barata para enriquecer o Capitalismo. Denominados como “gastos” para os patrões, que negam-se a pagar a remuneração básica, são os trabalhadores/as a ‘mola propulsora’ da sociedade.

Desrespeitados nas mais diferentes culturas apresentadas, o povo brasileiro embora resistente nas lutas e pautas em defesa da liberdade e na construção de um Projeto Popular para o Brasil e para o mundo, historicamente é violentado com jornadas de trabalho exaustivas, sofrendo diferentes tipos de assédios todos os dias. Por isso, a turma do Curso Realidade Brasileira finalizou mais uma etapa enfatizando a necessidade da organização, de emancipação da classe sofrida, para construção de um Projeto que tenha espaço e vida com dignidade para todos/as.

“E foi assim que o operário, do edifício em construção

Que sempre dizia sim, começou a dizer não.

E aprendeu a notar coisas, a que não dava atenção:

Notou que sua marmita era o prato do patrão

Que sua cerveja preta era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte era o terno do patrão

Que o casebre onde morava era a mansão do patrão

Que seus dois pés andarilhos eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia era a noite do patrão

Que sua imensa fadiga era amiga do patrão”.

E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte

Na sua resolução. (Vinicius de Moraes).

Fotos: Paulo Fortes (PJMP-PJR), Claudia Weinman (PJMP-PJR), Luiz Coelho (Associação Vital Karatê-Dô de Fraibrugo-SC). 

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