Milei modifica pacote de redução do Estado dois dias antes de greve na Argentina

Buscando maioria legislativa, governo excluiu do texto os parágrafos sobre privatização de petroleira YPF, reformulação da composição do Congresso e outras propostas que irritavam setores de direita que se opunham ao projeto

Por Alejandro Pagni/AFP

Por Victor Farinelli

O governo da Argentina apresentou oficialmente ao Congresso, nesta segunda-feira (22/01), o texto modificado da chamada Lei Ônibus, um pacote de mais de 300 medidas que o presidente Javier Milei tentou impor a partir de decreto em dezembro de 2023, mas que foi impedido de fazê-lo por decisão da Justiça, e agora precisará aprovar esse projeto no Legislativo do país.

As alterações já vinham sendo anunciadas nos últimos dias pelos meios de comunicação locais, mas a versão final do documento só foi confirmada após reunião neste domingo (21/01) entre o ministro do Interior, Gustavo Francos, o presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, e líderes de partidos de direita que opunham ao projeto, como a União Cívica Radical e a Coalizão Cívica.

Ao todo, foram mais de 100 alterações. Alguns artigos foram modificados e outros simplesmente eliminados.

Uma das eliminações que chamou a atenção foi a retirada da petroleira YPF da lista de empresas estatais a serem privatizadas. Se estabeleceu que outras estatais que atuam em “ramos estratégicos” só podem ser parcialmente privatizadas, o que inclui empresas como Nucleoeléctrica (energia atômica), Banco Nación (banco estatal) e ARSAT (satélites geoestacionários). Setores de esquerda defenderam a presença da empresa Aerolíneas Argentinas na lista, mas não tiveram sucesso.

Também foi removido o polêmico artigo que previa a obrigação de autorização policial para “qualquer congregação intencional e temporárias de três ou mais pessoas em um espaço público”, criticada por muitas organizações de direitos humanos como uma ameaça ao direito à livre manifestação.

O governo de extrema direita também desistiu de impulsionar uma mudança na composição da Câmara dos Deputados e uma lei que acabaria com a obrigatoriedade das prévias eleitorais – atualmente, as eleições gerais na Argentina são antecedidas pelas Prévias Abertas Simultâneas e Obrigatórias, que costumam ocorrer dois meses antes do primeiro turno, como aconteceu em 2023.

Outra modificação importante foi a aceitação da atualização automática das aposentadorias a partir do índice de inflação mensal, mecanismo que já existia e que o governo de Milei pretendia eliminar a partir do decreto de dezembro. O novo texto propõe congelar o mecanismo até abril, quando seria reativado.

Essas e outras dezenas de modificações buscam permitir a conformação de uma maioria entre os partidos de direita e de centro na Câmara dos Deputados, suficiente para alcançar a aprovação do texto.

Greve geral

Apesar do gesto em busca de apoio, o governo de extrema direita da Argentina terá um desafio dentro de dois dias: a greve geral convocada ainda em dezembro pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), e na qual se espera a adesão de mais de um milhão de pessoas nesta quarta-feira (24/01).

A alta expectativa de público por parte dos líderes sindicais se baseia, segundo o diário Página/12, nas assembleias prévias realizadas durante as primeiras semanas de janeiro.

O site Infobae afirma que a Casa Rosada pediu urgência na tramitação do projeto e tenta pressionar os possíveis novos aliados da direita e do centro para que o novo texto seja votado na tarde da quarta-feira, antes do horário programado para o ato político que encerrará a jornada de paralisação, que acontecerá em frente ao Congresso.

Setores de esquerda e grupos ligados a CGT defendem, por sua parte, que a votação ocorra na quinta-feira (25/01).

Com informações de Página/12 e Infobae.

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