Por Samir Oliveira.
Única jornalista dentre os palestrantes do Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, a editora e colunista do site Carta Maior, Maria Inês Nassif, disse na segunda-feira (7) que a mídia tradicional não está interessada em promover um debate profundo sobre a corrupção no país. Ela observa que as notícias sobre o tema enfocam apenas escândalos e fogem de questões centrais, como a influência do poder econômico sobre a política. O evento ocorre no auditório do Ministério Público do RS.
“Muito pouco se fala sobre os corruptores, aqueles que pagam as campanhas políticas e depois cobram o troco”, criticou a jornalista.
Para Maria Inês, essa é a principal discussão que deve ser pautada pelos veículos de comunicação. Ela considera que é difícil provocar esse debate, inclusive entre os próprios jornalistas. “Sempre vem alguém e diz que quem tem essa posição é favorável à corrupção.”
A colunista política considera que a forma como são financiadas as campanhas coloca os governos nas mãos do setor privado e, consequentemente, da mídia. “Com o sistema que existe hoje, é possível desqualificar todo um governo e derrubar um ministro por semana, se essas forem as intenções.”
A jornalista explica que é favorável à divulgação de esquemas de corrupção, mas avalia que a imprensa tradicional não tem feito isso de forma correta, atuando como “um partido de oposição” que busca apenas desqualificar. “A sensacionalização provoca uma onda de pânico e o público já não consegue mais distinguir a parte do todo. É uma desqualificação da política que não serve à democracia.”
Maria Inês considera que pouco irá mudar no país se o debate sobre o financiamento das campanhas não for seriamente tratado. “Vão ficar derrubando governos a vida toda? Precisamos desprivatizar as eleições, isso sim. O poder econômico hoje tem direito a voto”, concluiu.
Para Eduardo Carrion, presidencialismo de coalizão é eufemismo para corrupção
Palestrantes no Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, o especialista em Direito Constitucional, Eduardo Carrion, disse que o sistema presidencial brasileiro, na forma como está estruturado, é o principal responsável pela corrupção no país. O advogado critica o chamado presidencialismo de coalizão – onde quem ganha as eleições precisa conquistar maioria no Congresso Nacional para conseguir governar.
“É um eufemismo para presidencialismo de corrupção. É o caminho mais rápido e fácil: em vez de se ampliar o diálogo com a sociedade, se constroem maiorias artificiais nos parlamentos”, acusou.
Carrion condena a comparação entre a corrupção governamental e a corrupção praticada por cidadãos no dia-a-dia. Ele observa que ambas são condenáveis, mas que uma não pode justificar a existência da outra.
“Existe sim uma cultura de pequenos delitos. Mas há uma enorme diferença entre isso e a corrupção praticada por gangues organizadas que assolam o Estado”, disparou, em referência a grupos políticos e partidários que dominam ministérios ou repartições públicas.
Corrupção só aparece na mídia porque órgãos de controle estão atuantes, defende Spinelli
O titular da secretaria nacional de Prevenção à Corrupção e Informações Estratégicas – vinculada à Controladoria-Geral da União -, Mário Vinícius Spinelli, que também palestrou na segunda-feira no Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, disse que os escândalos de corrupção só são divulgados pela mídia porque os órgãos de controle estão atuantes e porque há transparência nas informações do governo federal.
Ele citou o exemplo dos abusos flagrados nas operações de cartões corporativos, no início de 2008, para ressaltar que a transparência provoca as denúncias da mídia e a atuação do governo. “A divulgação só ocorreu porque as informações sobre os gastos eram públicas. O objetivo é justamente esse: que abusos sejam detectados através da transparência”, defendeu.
Porém, ele ressaltou que a condução do caso pela mídia levou a um debate equivocado na época. “Houve uma tentativa de demonizar o cartão corporativo, como se ele fosse o problema, enquanto, na verdade, era a solução. Se não fosse o controle feito pelo governo dos gastos efetuados no cartão, os abusos não seriam facilmente detectados.”
Não basta apenas o Estado combater a corrupção, orienta Diniz
Gerente da W3C no Brasil, ONG que prega a utilização da internet como forma de tornar os governos mais abertos, Vagner Diniz foi um dos painelistas do Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção e defendeu a transparência como forma de combate às irregularidades praticadas por agentes públicos.
Ele considera que o Estado não tem condições de combater sozinho a corrupção. E aponta que a internet pode ser a ferramenta ideal para propiciar a ampliação do controle social sobre os governos. “Não basta o governo fazer o combate à corrupção. O Estado democrático moderno pressupõe uma sociedade civil fortemente organizada e as novas tecnologias têm um potencial enorme para propiciar a participação das pessoas.”
Jorge Hage encerra seminário
O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage Sobrinho, é o último palestrante do Seminário Internacional de Enfrentamento à Corrupção, que se encerra nesta terça (8). O evento, que iniciou ontem, ocorre no auditório do Ministério Público (Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, 80).
Após a palestra do ministro, o governador Tarso Genro fez encerramento oficial do evento.