O Alto Comissariado das Nações Unidas paras os Direitos Humanos (ACNUDH) informou nesta quinta-feira (04/03) que ao menos 54 pessoas morreram e mais de 1.700 foram detidas em Mianmar desde o golpe militar que ocorreu no começo de fevereiro.
Em comunicado, a instituição afirma que esse número é “provavelmente muito mais alto”, pois manifestações contra o golpe ocorreram em 537 locais do país.
A alta comissária de Direitos Humanos da instituição, Michelle Bachelet, disse estar “chocada” com a situação de Mianmar e com os “ataques documentados contra equipes médicas de emergência e ambulâncias que socorrem os feridos”.
Bachelet afirmou que, em alguns casos, as prisões constituem desaparecimentos forçados, e pede a libertação imediata de todos que foram presos de forma arbitrária.
Somente nesta quarta-feira (03/03), pelo menos 700 pessoas foram detidas. Entre os presos estão membros do Parlamento, ativistas políticos, funcionários eleitorais, defensores dos direitos humanos, professores, trabalhadores da saúde, funcionários públicos, jornalistas, monges e celebridades.
“Eu insisto a todos que têm informação e influência, incluindo funcionários de Mianmar que estão se juntando ao movimento de desobediência civil, que apoiem os esforços internacionais para responsabilizar os líderes militares pelas graves violações dos direitos humanos que foram cometidas tanto agora como no passado”, pediu.
“Guerra real”
A enviada especial da ONU ao país, Cristine Schraner Burgener, alertou na quarta que a situação no país ameaça a estabilidade da região e pode levar a uma “guerra real”.
Em conversa com jornalistas na cidade de Nova York, ela citou as 38 mortes que ocorreram no dia, sendo considerado o mais sangrento desde o golpe de fevereiro.
Burgener disse que está em contato com parlamentares eleitos e “outras partes” em Mianmar. Para ela, assim como para Bachelet, a participação da comunidade internacional é fundamental neste momento.
Manifestações
Os protestos diários contra o golpe militar, ocorrido em 1º de fevereiro, vêm aumentando de tamanho mesmo com a intensa repressão das forças de segurança. Cidadãos pedem a retomada imediata da democracia e a libertação de seus dois líderes, a Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi, e o presidente Win Myint.
Ambos foram detidos sob a acusação de “fraude eleitoral” no pleito de 8 de dezembro, que contabilizou uma vitória avassaladora do partido de Suu Kyi, o Liga Nacional para a Democracia (NLD). A data do golpe, inclusive, era o dia que os eleitos tomariam posse. Porém, após a prisão, os dois foram acusados de outros crimes que nada tem a ver com a disputa democrática.
Suu Kyi responde por uma importação irregular de rádios de comunicação e por violar a lei de gestão de catástrofes ambientais por conta da pandemia de covid-19 – mesmo crime de Myint. Mesmo em prisão domiciliar, a líder civil deposta ainda foi acusada por mais dois delitos – violação da lei de comunicações e incitação aos protestos.
Não é a primeira vez que o país vive um golpe de Estado. Nas eleições de 1989, após a vitória do partido Liga Nacional pela Democracia (NLD), o Exército prendeu Aung San Suu Kyi. Fato que se repetiu com o golpe no último mês.
O partido de Suu Kyi venceu as eleições legislativas de 2020, e a vitória foi contestada pelos militares. A Comissão Eleitoral do país discorda e diz que o pleito foi limpo e justo.
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