Por Elissandro Santana, para Desacato.info.
Em meio à pandemia, deveríamos ter aprendido mais, questionado mais. A nós mesmos, aos outros, a nossas escolhas… Se as fizemos bem e pensando na comunidade, nos mais pobres, nos animais, no todo, ou seja, no tecido da vida.
Deveríamos ter iniciado uma nova jornada neste Planeta, de forma sustentável.
Mas não, não fizemos isso, pelo menos, não todos nós.
Muitos de nós estávamos mais preocupados com a economia, em apoiar monstros políticos. Dessa forma, acabamos esquecendo o mais importante: que era tempo de mudança, por dentro e por fora!
Infelizmente, muitos de nós sucumbimos ao medo. Criamos monstros ou os alimentamos na política, na vizinhança, na rua, no bairro, em nossa cidade, na virtualidade e em outros espaços. Transformamo-nos em reféns do medo, e este, como sabemos, é alimento para o fanatismo e para o desespero. Ele nos impede de ir adiante, de ver além. Coloca-nos em cristalizações de ideias, de noções e de valores. Imobiliza-nos. Paralisa-nos!
Pena que em 2020, não somente o vírus se tornou nosso inimigo. Tornamo-nos mentalmente pandêmicos e odiosos em um grau bem mais avançado.
Poucos de nós conseguiram olhar para dentro de si mesmos. Mas esses poucos que se viram perceberam que lá no fundo é possível tocar a própria alma. E tocando-a, conseguiram entender quem e o que somos. E compreendendo isso, viram o outro, bem lá no âmago.
Vendo o outro enxergaram a pluralidade da existência e deixaram para trás qualquer marca de machismo, de homofobia, de racismo e toda e qualquer forma de desprezo à diferença (se é que tinham, já que, diferente dos demais, abriram a janela da alma como os outros não conseguiram por estarem imersos em medo ou no egoísmo latente).
Que bom seria se todos nós tivéssemos enxergado lá dentro, onde o divino faz morada (Não esse divino que pregam por aí), pois enxergando, repensaríamos os equívocos em nossas ações. Perceberíamos quais teriam sido as melhores escolhas políticas e em outros sentidos. Não continuaríamos lunáticos, buscando, no além, alguém que nos salvasse.
Diante das descobertas do existir, repensaríamos nossa relação com a Terra e com todos os outros seres que a habitam, não seguiríamos em nossos casulos de egoísmo, comemorando a vida nos natais e em outros rituais, em algum ponto do planeta, a partir da dor animal, de um banquete regado à morte de forma natural, alimentados por algum imaginário de algum livrinho sagrado escrito há dois mil ou mais anos.
Quem dera todos nós tivéssemos feito a grande viagem interior, para o entendimento dos monstros que nos assombram e dos monstros que criamos para assombrarem aos demais. Não tenho dúvidas de que todos nós mudaríamos, e muito, se fizéssemos a grande viagem para dentro de nós mesmos. Sairíamos de nossas cavernais mentais mais ecológicos, e não falo só de plantar árvores, mas de plantar esperança, aquele presente que não foi retirado da Caixa de Pandora, em decorrência da aflição e do medo paralisante em relação às desgraças que saíram antes.
Por fim, quero que saibam o seguinte: será a esperança que nos salvará e nos trará a fé na vida, no outro, na diferença e na pluralidade do existir, por isso, busque-a em seu baú, ainda que ele pareça de pesadelos, pois se você não fizer isso, 2020 representará, de fato, o início de nossa derrocada final como humanidade!
Elissandro Santana é professor, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.
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