Por Travis Waldron.
Meses antes de a Copa do Mundo de futebol feminino começar, uma repórter perguntou à jogadora da seleção dos Estados Unidos Megan Rapinoe se ela visitaria a Casa Branca caso a equipe conquistasse o quatro título mundial.
“Eu não vou à merda da Casa Branca”, disse. E em seguida acrescentou que ela e as colegas, que lutam por igualdade salarial, provavelmente nem seriam convidadas.
Quando seu comentário veio à tona no mês passado, o presidente Donald Trump a respondeu no Twitter. Disse que ela não tinha sido convidada e que deveria ganhar antes de falar. Aproveitou a cena para convidar todo o time, caso ganhasse ou perdesse. “Seja orgulhosa da bandeira que você veste”, disse Trump.
Rapinoe respondeu com dois gols essenciais para a vitória nas quartas de final em cima da França — o que a fez uma heroína nacional em oposição ao governo Trump.
Tudo se encaixa perfeitamente no momento político e no esporte. Por tudo que ela fez em campo — título em mundial, medalha de ouro em Olimpíada —, foi natural que sua afirmação feita fora de dele a tornasse uma mega-estrela.
Sua resistência, porém, começou muito antes. Antes mesmo de Trump ser eleito. E ela usa o momento de sucesso da seleção como uma plataforma de um jeito que pouquíssimos atletas ousaram fazer.
Rapinoe fez seu debut na Copa do Mundo em 2011. No campo, fez o gol decisivo no empate que resultou em uma vitória em cima do Brasil. No ano seguinte, a jogadora anunciou que é gay. Um movimento que a fez uma das mais proeminentes atletas abertamente lésbicas no mundo do esporte, no qual a homofobia ainda mantém muitos dentro do armário.
“Nosso time em geral está em uma posição na qual as pessoas e as crianças nos olham como exemplo”, disse em 2012. “Eu encaro isso e penso em existe uma grande quantidade de seguidores LGBT. É muito legal a oportunidade que eu tenho, especialmente no esporte. Não existe esse tanto de atleta e é importante ter me assumido lésbica e viver minha vida desse jeito”, disse.
Depois que os Estados Unidos ganharam a Copa de 2015, Rapinoe foi uma das cinco jogadoras que contestou o fato de a seleção violar leis que requerem pagamento igual para o mesmo trabalho independentemente do sexo.
No ano seguinte, Rapinoe engrossou os protestos injustiça racial nos Estados Unidos. “Não tenho experiência com perseguição racial, mas não posso ficar imóvel enquanto tem pessoas neste país que lidam com este tipo de coisa”, escreveu no The Players Tribune.
Na França, ela apareceu com seus cabelos rosas e continuou o pedido por igualdade aos LGBTs antes do torneio começar. Quando os Estados Unidos trocaram suas regras e passaram a pedir para suas atletas cantarem o hino nacional, ela protestou por igualdade racial se recusando a cantá-lo.
Ela e suas colegas levaram a disputa por igualdade salarial para a Copa. Os investimentos da Fifa no futebol feminino continuam longe do que é dado ao masculino. Rapinoe sugeriu então que a liga feminina deixasse a Fifa e criasse sua própria federação.
E tem Trump. Mesmo com seu protesto tento começado antes de Trump, ele culminou este mês. Rapinoe, talvez mais que os opositores políticos de Trump, conseguiu conectar suas lutas por igualdade racial, de gênero e pagamento à espinha da identidade estadunidense.
“Eu sou particularmente e unicamente muito estadunidense”, disse. “Se nós queremos falar sobre as coisas que lutamos, acho que sou extremamente estadunidense. (…) Sim, nós somos um grande país, com muitas coisas maravilhosas. Mas isso não significa que não podemos ser ainda melhores.”