Megaeventos: investimentos altos e, em alguns casos, desnecessários

Juca Kfouri
Juca Kfouri

Jornalista Juca Kfouri fala sobre desapropriações, falta de participação da população nas tomadas de decisões e falta de investimentos no esporte

Por Gustavo Siqueira para Desacato.info

A noite desta quarta-feira (10) das Jornadas Bolivarianas 2013 teve como conferencista o jornalista esportivo Juca Kfouri. Embora estivesse prevista a participação do jornalista Maurício Mejía, o mexicano não chegou a tempo devido a problemas em seu vôo.

Kfouri contestou a popular expressão do Brasil como país do futebol. Afirmou que 24% da população brasileira, em média, não se interessa pelo esporte. Embora reconheça na Copa do Mundo alguma legitimidade, devido à tradição do país no esporte, as Olimpíadas seriam para ele desnecessárias, já que o país pouco investe no esporte, de modo geral, prática que, para o jornalista, é um meio eficaz de prevenir doenças.

O Brasil passa por uma circunstância parecida com a vivida na África do Sul, no caso da Copa do Mundo de 2010. Kfouri exemplificou os despejos e desapropriações de quatro mil famílias na Cidade do Cabo, para a construção de um estádio. E agora, discute-se a possibilidade de implosão por causa dos altos custos da sua manutenção. O jornalista também lembrou das cidades com poucas chances de legado no futebol, como Cuiabá, Natal e Manaus, que não têm equipes sequer na primeira divisão e representariam um alto investimento em estádios de padrão europeu, os quais seriam inúteis após 2014.

Ao criticar a gestão de Ricardo Teixeira e José Maria Marin, recordou a presença deste último na política da ditadura militar e chamou a atenção para um registro de Marin neste contexto, segundo o qual teria elogiado o trabalho de Sérgio Paranhos Fleury – notório torturador do DOPS, que teria torturado o ex-marido de Dilma Rousseff. Neste caso, na abertura da Copa do Mundo, a presidenta teria ao seu lado alguém que simpatizou com o torturador do pai de seus filhos.

Do ponto de vista econômico, o jornalista exemplificou a expectativa não correspondida do setor hoteleiro de Londres nos jogos do ano passado. Além disso, citou o caso da Holanda de ter recusado a se candidatar como país sede por não valer a pena o tamanho do investimento em relação aos impactos no país. Kfouri sugeriu que esta deveria ser a postura do Estado brasileiro antes de se candidatar, pelo menos consultando a população antes da tomada da decisão.

Por fim, o jornalista “cobrou” maiores incentivos ao esporte no país, como com a utilização de espaços como estacionamentos e escolas nos finais de semana para a prática de esporte e socializações, por exemplo. No entanto, lembrou que isso depende do consenso de grupos que têm muito a perder com tais políticas e a barreira a se superar é um grande desafio.

Imagem: congresso em foco

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