Por Luciane Recieri, para Desacato.info
Hoje, um aluno do nono ano começou uma conversa comigo, isso depois de muitas semanas de revolta, fugas e desdém com as atividades que proponho em sua sala, o que me fez sofrer muito, porque é um dos alunos que mais gosto.
Entrei na sala e ele estava sentado na frente, na primeira carteira. Estranhei, mas não me alegrei logo de cara, como é próprio de mim fazer.
Tenho ensinado matemática, apesar de ser licenciada em Ciências Sociais. Passei uns exercícios na lousa e ele começou a perguntar, o que me alegrou. Pediu pra ir à lousa e conseguiu resolver. Depois disse que queria uma mãe como eu, porque observa que, às vezes, eu paro e olho as árvores, olho pra fora, parecendo que tento achar de onde vem um canto de passarinho.
Sim, ele observa o meu silêncio doloroso diante de minha impotência: “professora, queria uma mãe que gostasse de árvores como você gosta.” Sentei com ele e conversamos como éramos: amigos.
Ele desabafou sobre o momento político, disse que tem medo tanto por São Paulo quanto pelo Brasil. Sim. Eu também. Hoje, eu havia ficado sozinha no refeitório, rosto colado na grade tentando respirar, mas depois da aula que meu aluno me deu, respirei um pouco mais aliviada, entendi mais da necessidade deles e mais da minha dor.