Quem ainda acha que lutar pelos direitos das mulheres é moda recente precisa conhecer este clássico feminista do século XVIII que é Reivindicação dos direitos da mulher. Escrito em resposta à constituição francesa de 1789, o livro demonstra como nas próprias origens do modernidade pulsava a luta pela emancipação feminina. A autora, Mary Wollstonecraft, foi uma admirável intelectual libertária, uma ativista das causas dos oprimidos, cuja militância antiescravagista é hoje reconhecida oficialmente com sua introdução formal no panteão dos abolicionistas ingleses. Para o livro, que até hoje é considerado um dos documentos fundadores do feminismo, preparamos um bela edição comentada e com prefácio inédito escrito por Maria Lygia Quartim de Moraes, que contextualiza a obra e ressalta sua atualidade no Brasil de hoje. Leia abaixo a orelha do livro, assinada por Diana Assunção.
Ambas, aliás, participam junto com Rosane Borges do debate de lançamento do livro em São Paulo, marcado para semana que vem, dia 18 de abril. No Rio de Janeiro, a roda de conversa está marcada para o dia 2 de maio e conta com a presença de Adriana Facina (professora da UFRJ), Lola Ferreira (Jornalista e ativista, colaboradora da Revista Capitolina e do Blogueiras Negras), Rejane Carolina Hoeveler (historiadora e ativista) e Daniela Lima (escritora e ativista, colunista do Blog da Boitempo, Revista Fórum e Huffington Post).
No fim do século XVIII, logo após a França ser palco da maior revolução burguesa da história, que exigia liberdade, igualdade e fraternidade, diversos questionamentos passaram a clamar pela extensão de tais direitos a toda a humanidade, e não apenas aos homens brancos europeus: o primeiro surgiu na colônia francesa no Haiti, que já em 1791 deu início a sua revolução negra; logo em seguida, em 1792, fez-se ouvir o protesto feminista de Mary Wollstonecraft, de Londres, que exigia justiça para as mulheres, excluídas do papel de cidadãs pela Constituição Francesa recém-promulgada.
Foram, portanto, as próprias ideias iluministas que influenciaram Mary a enfrentar grandes nomes como Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot, os quais, apesar de se basearem na razão, guardavam para a mulher um lugar inferior na sociedade. Mary Wollstonecraft sustentava que a dependência econômica das mulheres, bem como sua impossibilidade de acesso à educação racional, transformava-as em seres infantis e resignados.
A obra Reivindicação dos direitos da mulher é considerada uma das precursoras do feminismo, escrita em um momento anterior ao das grandes lutas proletárias, quando a burguesia ainda carregava uma missão revolucionária. As ondas seguintes do feminismo internacional já teriam como palco o mundo capitalista, em que a burguesia não somente deixaria de ter papel revolucionário como conduziria a humanidade aos massacres das duas guerras mundiais, convertendo o mundo em uma suja prisão. Para dar continuidade à obra de Mary Wollstonecraft, hoje o protesto feminista precisa ser também anticapitalista e se ligar à classe trabalhadora, a classe revolucionária da nossa época. É um grande acerto a Boitempo Editorial resgatar essa voz contra a cruel opressão cotidiana, uma voz que continua viva em milhões de mulheres – meninas, negras, indígenas e imigrantes em todo o mundo.
Diana Assunção
A prefaciadora do livro Maria Lygia Quartim de Moraes veio à sede da editora bater um papo com a gente sobre algumas das questões que o livro coloca, e sua atualidade hoje. Publicamos o resultado na TV Boitempo abaixo, confira:
Quer entender melhor por que Mary Wollstonecraft é considerada uma das fundadoras do feminismo? Não deixe de ler o texto”Mary Wollstonecraft e as origens do feminismo“, extraído do excelente manual Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014), de Luis Felipe Miguel eFlávia Biroli no Blog da Boitempo. O livro também dá nome ao dossiê especial sobre feminismo, no Blog da Boitempo, com textos, vídeos, resenhas e reflexões de Maria Rita Kehl, Daniela Lima, Maria Lúcia Karam, Ludmila Abílio, Michael Löwy, Djamila Ribeiro, Christian Dunker, Rosane Borges, Mauro Iasi, Vladimir Safatle, Flávia Biroli, entre outros… clique aqui e confira.
Tem mais feminismo vindo aí na Boitempo…
A Boitempo prepara para o segundo semestre deste ano uma pedrada do feminismo da segunda metade do século XX: Mulheres, raça e classe, escrito pela filósofa e militante Angela Yvonne Davis, o livro traça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anti-capitalista, a luta feminista e a luta antirracista. Ainda em 2016 preparamos ainda um nacional inédito que atualiza o debate contemporâneo sobre a desigualdade de gênero no mundo do trabalho hoje. Organizado por uma equipe interdisciplinar encabeçada por Helena Hirata (autora de Nova divisão sexual do trabalho?), Alice Rangel de Paiva Abreu e Maria Rosa Lombardi, a antologia elabora um rol impressionante de dados novos de pesquisa de campo no centro e na periferia do capitalismo, para mostrar como a disparidade salarial, a dificuldade para ascender na carreira e a segregação enfrentadas por mulheres são problemas globais. E é claro que a discussão sobre igualdade de gênero também não podia ficar de fora da programação do Boitatá, o novo selo infantil da Boitempo! Como as crianças estão sendo educadas e o que significa, para elas, ser mulher ou homem? Meninas usam rosa e meninos usam azul? Partindo da ideia de que as mulheres e os homens são pessoas iguais, com gêneros diferentes, As mulheres e os homens, de Luci Gutiérrez (ilustrações) e Equipo Plantel (idealização e texto), propõe uma reflexão lúdica que estimula e leva a sério a capacidade questionadora dos pequenos leitores!
Pra terminar, um quadrinho da Mary Wollstonecraft extraído do primeiro volume antologia de clássicos da literatura universal em quadrinhos Cânone gráfico, organizado por Russ Kick e publicado pelo Barricada, novo selo de HQs da Boitempo!