Um rapaz entra em um bar e senta-se no balcão. Leva um susto ao ver um homem de barba branca, tomando cerveja. “O que foi? Nunca viu Marx? Voltei para a Terra porque muito se fala sobre as minhas ideias, porém as estão desvirtuando…”
A cena é uma das viagens entre o passado e o presente que fazem parte da minissérie argentina “Marx voltou”. Trata-se de uma criação do coletivo audiovisual Contraimagen e do Instituto de Pensamento Socialista (IPS). Já foram gravados quatro capítulos com duração de 15 minutos cada um, e o quinto será publicado em breve. Desde o lançamento, os episódios já foram vistos por mais de 300 mil pessoas no YouTube, além de circular em universidades, centros culturais e partidos políticos na Argentina.
“Burgueses e proletários”, “O mercado e as crises capitalistas”, “O Estado e a revolução” e “O comunismo” são os títulos dos quatro episódios, protagonizados pelo ator Carlos Weber, que já interpretou o filósofo alemão na montagem argentina da peça “Marx no Soho”, do historiador e dramaturgo norte-americano Howard Zinn. As ideias de Marx são expostas na minissérie com a ajuda de filmes antigos, achados audiovisuais na internet e animações, entre outros recursos.
“Quando lançamos a série, alguém postou o seguinte comentário na internet: ‘É um produto inclassificável, porém muito bom’. Se você assistir como ficção, ela conta a história de um rapaz lutando pelos colegas que foram demitidos. E você pode nem se dar conta da transmissão das ideias marxistas. Nós misturamos essa história com ideias didáticas sem perder o eixo narrativo-ficcional”, disse Javier Gabino, responsável pela direção e montagem dos vídeos. A minissérie está ambientada nos dias de hoje, no contexto de uma gráfica que começa a suspender e demitir seus funcionários. Martín (Martín Scarfi), um dos operários e protagonista da história, lê o “O manifesto comunista” e acaba se encontrando com Marx. Dessa forma, os episódios começam a mostrar, pela voz do autor de “O Capital”, as ideias revolucionárias sobre classes sociais, as crises, o Estado e o comunismo.
“É impressionante a atualidade das ideias de Marx mundialmente, a partir da crise capitalista de 2008. São temas muito atuais e ainda mais pelo que se conhece por sindicalismo de base. Os que mais se interessaram foram parte de uma nova classe que procura novas respostas na Argentina. Nos últimos anos, a esquerda teve um avanço político e social bastante amplo”, acrescentou Gabino.
Tradução: Mari-Jô Zilveti
Texto publicado originalmente no site da Revista Debate, publicação argentina que trata de política, economia e cultura.
Fonte: Ópera Mundi.