Documentos encontrados pela Comissão Nacional da Verdade revelam a existência de um arquivo desconhecido das Forças Armadas sobre o período da ditadura militar (1964-85) com pelo menos 1,2 milhão de páginas.
Batizada de Netuno, operação realizada entre 1972 e 1974 pelo Cenimar (serviço de informações da Marinha) microfilmou papéis do regime –classificados como sigilosos, oficiais, secretos e ultrassecretos– com o objetivo de preservar a documentação.
Destino de acervos da ditadura ainda é desconhecido
Foram produzidos cerca de 1,2 milhão de fotogramas, divididos em dez temas, tais como “mortos”, “agentes” e “operações”.
Os microfilmes preservam arquivos por um tempo superior e, por serem compactos, também facilitam o armazenamento de documentos.
Ainda não se sabe qual o destino dado a tal acervo.
Relatório do Cenimar, assinado pelo capitão Ronaldo Velloso Netto dos Reys (já falecido), diz que os microfilmes deveriam ser guardados nos arquivos do Rio e em Brasília, “para efeito de prova em juízo ou fora dele”.
Os documentos que listam o arquivo desconhecido das Forças Armadas foram encontrados pelo grupo investigativo da Comissão da Verdade. A equipe foi desativada em maio, após divergências entre os comissários, conforme noticiado pela Folha na semana passada.
A pedido da comissão, três historiadores analisaram o relatório da Marinha.
No parecer obtido pela Folha, os professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) Ângela Castro Gomes, Daniel Aarão Reis e José Murilo de Carvalho afirmam tratar-se de “prova contundente da existência de uma vasta documentação inédita, até agora desconhecida”.
Para realizar a tarefa de microfilmagem dos papéis, a Marinha investiu na aquisição de equipamentos e até enviou militares a Washington para um curso na biblioteca do Congresso americano.
Procurada, a Marinha informou não ter registros da Operação Netuno.
O Ministério da Defesa afirma que foi procurado pela Comissão Nacional da Verdade e pela Casa Civil em maio. Eles cobravam informações da pasta sobre os papéis copiados pela Marinha.
O ministro Celso Amorim pediu informações sobre o assunto aos comandantes das Forças Armadas.
A Folha apurou que, no ofício enviado à Defesa, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica fizeram menção à legislação que vigorava na ditadura e que previa a destruição de documentos, sugerindo que esse acervo não existe mais.