Por Igor Carvalho.
Anielle Franco considera que a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) à Presidência da República, e de Wilson Witzel, ao governo do Rio de Janeiro, prejudicaram as investigações do assassinato de sua irmã, Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes, que completa três no próximo domingo (14).
“É inegável que a eleição de Bolsonaro e do Witzel trouxeram insegurança para a investigação do caso. O discurso de ódio contra a gente e as fake news dificultam muito nossa vida”, afirmou Anielle Franco. Ainda de acordo com a irmã da vereadora, “três anos é um tempo constrangedor para as autoridades responsáveis pela investigação.”
Anielle Franco falou na manhã desta sexta-feira (12), durante a coletiva de imprensa do Instituto Marielle, do qual é diretora executiva, e da Anistia Internacional.
As entidades reuniram um milhão de assinaturas em uma petição que cobra celeridade nas investigações do crime. O documento traz, ainda, 14 perguntas sem respostas sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
“Não podemos aceitar que as autoridades brasileiras não tenham uma resposta clara sobre o assassinato da quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro. É inadmissível que não haja respostas consistentes. É preciso que as autoridades brasileiras venham à público dizer quais são suas dificuldades”, cobrou Jurema Wernek, diretora da Anistia Internacional no Brasil.
O dossiê será entregue ao governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e ao procurador-geral de Justiça do estado, Luciano Mattos.
A família de Marielle e a Anistia Internacional consideram que Castro e Mattos se omitem do debate e fogem dos questionamentos à respeito da morosidade das investigações.
“São um milhão de pessoas do Brasil e do mundo inteiro, que mandam uma mensagem para a família de Anderson e Marielle, de que o mundo está ao lado de vocês por justiça. Por que o governador Cláudio Castro e o procurador Luciano não querem vir à público falar sobre as investigações? Marielle Franco não está aqui, mas seu silêncio foi recusado. Não desistiremos”, encerra Werneck.
Quem são os mandantes?
Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, falou sobre o luto permanente da perda da filha. “Nossas dores ainda são enormes, não tem como mensurar a dor de uma mãe que passa por isso. Marielle foi brutalmente assassinada, sem que a gente conseguisse fazer nada, minha filha não teve chance defesa”.
Ela também cobrou o poder público do Rio de Janeiro. “Estamos mais uma vez pedindo mais empenho das autoridades. Três anos é muito tempo, para não sabermos quem são os mandantes dessa barbárie”, encerrou.
Companheira de Anderson Gomes, Agatha Arnaus também aguarda notícias sobre a evolução das investigações. “São três anos de luta e dor, mas de luta por justiça. Eles tiveram seus planos interrompidos, tinham muita coisa por fazer. Para mim, esse mês tem sido um dos piores. Além dessa busca por respostas e justiça, ainda temos trâmites legais e religiosos para resolver. Cada mês que passa, diminui a força para lidar com as coisas.”
Enquanto as investigações não apontam os mandantes do assassinato de Marielle Franco, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já decidiu, no dia 9 de fevereiro deste ano, que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de matar a vereadora, irão a júri popular. A dupla está presa desde março de 2019. Ainda não há data para o julgamento.
Perguntas
O dossiê sobre o caso é composto por uma linha do tempo desde o crime, que acompanha a investigação do caso e 14 perguntas formuladas pelo Instituto Marielle Franco e Anistia Internacional, que seguem sem resposta.
Para além da pergunta que se repete no país desde 14 de março, “Quem mandou matar?”, os autores da campanha querem saber a relação de Lucas do Prado Nascimento da Silva, responsável por clonar os documentos do veículo utilizado por Ronnie Lessa e Elcio Queiroz na noite do crime, com o miliciano Adriano da Nóbrega e o Escritório do Crime, por ele chefiado.
A família também pergunta ao Google, porque dados dos suspeitos ainda não foram entregou entregues ao Ministério Público do Rio de Janeiro. A empresa americana de tecnologia se recusa a passar aos investigadores as informações relacionadas a número de IP e a Device ID, que é a identificação de computadores e celulares. Os dados podem, de acordo com o órgão, identificar os mandantes do crime.
A Google resiste à decisão e já foi ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde perdeu, para tentar reverter a medida. De acordo com a empresa, esses dados são pessoais e pode ferir o direito à privacidade de seus usuários. Para conferir todas as perguntas, clique aqui.
No próximo domingo (14), marco dos três anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, diversas manifestações ocorrerão no Brasil e fora do país para lembrar o crime e cobrar justiça. O Instituto Marielle organizou um mapa com os atos.