Marcha do silêncio em Salvador homenageia vítimas da ditadura militar

Para marcar os 55 anos do golpe militar de 1964 no Brasil, o Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM), junto com entidades do movimento social baiano, organizou, nesta segunda-feira (1º/04), a Marcha do Silêncio, que percorreu as ruas do Centro de Salvador em homenagem aos mortos e desaparecidos da ditadura. O ato saiu da praça da Piedade e terminou no monumento em memória das vítimas da ditadura, localizado no Campo da Pólvora.

Imagem: Fernando Udo.

O presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Joviniano Neto, explicou que, além da homenagem às vítimas, a marcha também propôs uma reflexão à sociedade sobre as violações de direitos humanos cometidas na ditadura. Além disso, a manifestação serviu, segundo ele, para marcar um posicionamento contrário ao regime autoritário ‘para que nunca mais aconteça’.

Ao longo da caminhada, os manifestantes fizeram críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que, na semana passada, ordenou que os quartéis fizessem comemorações pelo golpe. Jovianiano afirmou que o ato já estava marcado antes da decisão do presidente, mas a fala dele acabou por fortalecer, ainda mais, a realização do movimento. “Muita gente está aqui motivada pelo que ele disse e está tentando fazer”, disse..

A marcha contou com a presença de vítimas e familiares de presos, torturados, exilados e desaparecidos na ditadura. Uma das vítimas presentes foi o dirigente comunista Haroldo Lima, que foi preso e torturado no período. Na ocasião, Haroldo fez críticas a Bolsonaro e disse que a caminhada estava sendo uma ‘descomemoração’ do que o presidente pretendia comemorar. Para ele, o que há de festejar é a resistência popular a governos autoritários.

“O golpe instalou uma ditadura raivosa e cruel no Brasil, que trouxe grande prejuízo para a nação brasileira e para o povo do nosso país. Por outro lado, estamos comemorando o estado de espírito do nosso povo de rebeldia. Nós temo que contestar isso que está aí, mudar essa política, e fazer uma transformação maior no país, de modo a preparar o terro para que as forças populares voltem a governar”, disse Haroldo.

Diva Santana, que também integra o GTNM, é irmã de uma desaparecida da ditadura, a guerrilheira do Araguaia Dinaelza, e esteve na marcha. Ele defendeu a necessidade de manter sempre viva a história das atrocidades que aconteceram durante o regime militar e também criticou a postura de Bolsonaro. Segundo ela, o presidente quer confundir a opinião pública ao insinuar que há motivos para se comemorar o golpe de 64.

Comemorar o que? O que a ditadura fez? Matou, torturou, executou, escondeu corpos. Tenho familiar desaparecido político e até hoje não sabemos das circunstâncias da sua morte nem o local do sepultamento. Procuramos as ossadas pelo Brasil afora. Por isso, a ditadura não tem nada a comemorar”, afirmou Diva Santana.

A Marcha do Silêncio também contou com a participação da vereadora Aladilce Souza, de Salvador, e a deputada estadual Olívia Santana. Para Aladilce, a realização do ato é fundamental para contar “às novas gerações uma história que os livros de História não contam”.

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