Por Breno Cacossi.
Cinema privativo, salão de jogos, piscinas, churrasqueira, academia, sauna e adega. É a propaganda de uma festa? Churrasco? Excursão de férias? SPA? Clube? Não, são apenas alguns dos atrativos das mansões que custam por volta de R$ 50 milhões do condomínio de Marcelo Odebrecht, onde ele cumprirá pena pelos crimes bilionários que o tornaram uma das pessoas mais ricas do país.
Odebrecht financiava funcionários públicos, políticos, milícias e grupos guerrilheiros. Em troca obtinha grandes “benefícios”, como contratos bilionários para realização de obras com verbas públicas, parte delas superfaturadas. Tinha contas no exterior e participou de todo tipo de esquema de corrupção. Em notícias sobre pessoas pobres, grandes veículos de comunicação normalmente usam expressões como “bandido”, “assaltante”, mas, quando se referem a Marcelo Odebrecht escolhem usar os termos “empresário”, “empreiteiro”. Após os acordos firmados de delação, o judiciário também parece conferir muito apreço ao meliante.
Marcelo Odebrecht foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão em dois processos, pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Mas, nesta terça-feira (19), após dois anos e meio, embarcou em seu avião particular para cumprir os próximos dois anos e meio de pena em sua mansão de luxo. Mesmo neste período de regime fechado, no acordo assinado, o bandido ainda poderá sair de casa duas vezes, incluindo para ir à formatura de suas filhas. Privacidade, tranquilidade, luxo, em sua “prisão domiciliar” Odebrecht estará praticamente em um clube de férias, com muito espaço e entretenimento, podendo fazer uma lista de 15 amigos para visitas, não há qualquer restrições também às visitas à esposa e filhas, a profissionais da saúde, advogados.
Passados mais dois anos e meio e estará no regime semiaberto, podendo passear por aí durante o dia, tendo que se recolher à sua mansão à noite e aos fins de semana. Mais dois anos e meio e estará no regime aberto diferenciado, podendo ficar livre todos os dias, tendo que se recolher apenas aos fins de semana e feriados.
No início das investigações, Marcelo Odebrecht dizia em depoimentos que não tinha nada para contar à justiça. Após vazarem informações sobre os esquemas de propina, por meio de outros funcionários e executivos, e também considerando as premiações que receberia caso efetivasse as delações, o corrupto resolveu delatar.
De todos os depoimentos e documentos recolhidos a respeito do envolvimento de sua empresa nos crimes, sabe-se que o empresário dava as cartas em todos os governos, mais de 200 políticos estavam nas listas de propina, incluindo todos os presidentes do país desde o fim da ditadura militar.
O Brasil prende o dobro de pessoas que há onze anos atrás, 40% dos presos nunca foi julgado. Só no Rio de Janeiro a cada 18 horas ocorre uma denúncia de tortura nas prisões, a polícia já matou mais de 1000 pessoas em 2017 no estado, e 41 policiais acusados de crimes foramliberados pela justiça recentemente.
No Brasil o crime é ser pobre, já que não precisa nem ser julgado para ser preso, torturado, e até assassinado pela “justiça”. O Estado funciona como um balcão de negócios da classe dominante. Os partidos da ordem e seus políticos funcionam como funcionários a serviço de aumentar os lucros dos burgueses. A polícia e o judiciário estão na contenção da classe trabalhadora, protegendo a grande propriedade, agora com algumas operações sobre empresários para tentar iludir a população quanto à sua real função que é manter uma ordem absurdamente desigual. Antes aparentando fazer uma “lavagem” na corrupção brasileira, os políticos citados nas propinas da Odebrecht serão enquadrados em crimes mais brandos, os casos de “penas” em mansões já são comuns nos noticiários. 1% da população controla sozinho 30% de toda a renda, os 10% mais ricos possuem o equivalente a 55% da renda, é o país com maior concentração de riqueza no mundo.