Por Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
“Tudo é permitido, mas nem tudo convém. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica.” (São Paulo, I Coríntios 10, 23).
Trabalhamos na PUC/SP há muitos anos, alguns de nós há mais de vinte ou mesmo trinta anos, e já atravessamos várias situações de crise. Apesar de todas as dificuldades, escolhemos sempre ficar na PUC/SP porque a Instituição, ao lado de sua excelência acadêmica, encarna valores de liberdade e de justiça social que prezamos e dos quais cuidamos. Lembramos com orgulho da atitude da primeira reitora eleita pelo voto direto, Dona Nadir Kfouri, amparada no apoio majoritário da comunidade e na presença do Grão-chanceler Dom Paulo Evaristo Arns, que rechaçou com coragem intervenções autoritárias durante a ditadura militar e acolheu na PUC/SP muitos professores excluídos pelo AI 5 de universidades públicas. Enfim, achamos até hoje que o trabalho universitário não se caracteriza somente pela qualidade da pesquisa e do ensino, mas que essa qualidade só tem a ganhar quando se sustenta numa discussão ampla, mas crítica e exigente, da realidade política, social e cultural do país.
Em mais de trinta anos de eleição direta para reitor(a) na PUC/SP, o primeiro nome, isto é, o nome do candidato mais votado, sempre foi escolhido pelo Grão-Chanceler, em sinal de respeito e de reconhecimento da vontade majoritária da comunidade. A recente nomeação do terceiro colocado em uma lista de três candidatos fere essa tradição; não questionamos sua legalidade, mas, num sentido mais amplo, sua legitimidade, garantia de relações harmoniosas entre a autoridade da Igreja e a liberdade acadêmica da Instituição universitária.
Certamente, há situações em que conflitos e inquietações são benéficos porque fecundos. Não, porém, no presente caso, em que a cisão parece tão desnecessária quanto historicamente arriscada. O momento difícil pelo qual passa a PUC/SP requer, ao contrário, conciliação e concórdia.
A política interna da Universidade não deve espelhar-se nas mazelas da “grande” política. Pelo contrário, ela deve fazer-se um “pequeno” modelo para a política “maior”: aquela que tem unicamente por meta o melhor para a instituição e para a comunidade. A histórica tradição democrática da PUC/SP, muito embora alguns desmandos indesejados, simboliza, para toda política – universitária ou não –, o exemplo concreto de uma política verdadeiramente participativa. Ataquemos os desmandos sem permitir que o símbolo se desfaça.
É neste sentido que nos dirigimos ao Grão-Chanceler da Universidade, convidando-o a rever uma decisão geradora de divisões por uma postura que agregue e promova alianças. Há situações em que a reconsideração de um ato não significa retrocesso nem fraqueza, mas sabedoria e gesto de coragem. Nosso apelo não é movido por desconhecimento da autoridade do Grão-Chanceler, e menos ainda por prepotência. Move-nos um único orgulho: o de ocuparmos o cargo acadêmico de Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
São Paulo, 21 de Novembro de 2012.
Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Fonte: Correio da Cidadania.