São Paulo – Cerca de 250 pessoas se dirigiram hoje (25) ao Consulado Geral do Paraguai em São Paulo, no bairro do Itaim Bibi, na zona sul, para protestar contra a destituição do presidente Fernando Lugo, que sofreu um impeachment relâmpago na última sexta-feira (22).
Participaram do ato centrais sindicais, partidos políticos, movimentos sociais e estudantis brasileiros, além da comunidade paraguaia que reside na capital. Os manifestantes não reconhecem o vice Federico Franco como novo chefe de Estado e pedem o retorno imediato de Fernando Lugo ao poder.
“O golpe se constitui na medida em que não houve o devido processo legal”, defende um dos organizadores do protesto, Pedro Charbel, estudante de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). “A convocação de Lugo para prestar esclarecimentos ao Congresso já é uma condenação, e a sentença final dos parlamentares não apresenta nenhuma prova: simplesmente diz que as acusações são de conhecimento notório e não precisam ser provadas.”
Para Vicente Gamarra, membro da Comissão do Bicentenário do Paraguai, uma organização social que desde 1978 congrega imigrantes do país em São Paulo, a democracia paraguaia vive um momento muito difícil. “Lugo foi eleito pelo voto popular, e alguns parlamentares passaram por cima da vontade do povo. Eles estão falando que a destituição é legal. Mas, a nove meses das eleições? Com apenas duas horas para o presidente se defender?”, questiona.
“A forma como destituíram Lugo é totalmente antidemocrática, vai contra os interesses do povo e o movimento sindical não pode aceitar”, expressou Iván González, coordenador político da Confederação Sindical das Américas (CSA), que filia centrais de toda a região, inclusive do Paraguai. “Respaldamos totalmente a luta do povo paraguaio, somos solidários ao presidente Lugo e apoiamos os trabalhadores paraguaios que estão mobilizados contra o golpe.”
Uma comissão do Consulado Geral do Paraguai em São Paulo recebeu cinco representantes do protesto: dois sindicalistas, dois imigrantes paraguaios e um estudante. Os manifestantes disseram aos diplomatas que repudiam o golpe de Estado no Paraguai e aceitaram receber uma carta assinada pelas organizações que integraram o ato. Porém, não emitiram qualquer opinião sobre a situação política do país. Tampouco quiseram atender à reportagem da Rede Brasil Atual.
Assim como vários acontecimentos políticos ao redor do mundo, a manifestação de hoje contra a destituição de Fernando Lugo foi resultado das redes sociais. “Começou pelo Facebook”, explica Pedro Charbel, estudante da USP. “Eu e um amigo já éramos ligados à comunidade paraguaia em São Paulo e, assim que soubemos do golpe, decidimos convocar esse ato.”
Os jovens chamaram centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos. Como a intenção era realizar uma manifestação unificada, com a presença de todos, Charbel explica que a proposta foi realizar um protesto exclusivamente contra o golpe de Estado. Assim, conseguiram fugir às divergências internas quanto ao caráter do governo de Fernando Lugo, cujas medidas não são consensuais entre os setores de esquerda.
De uma reunião realizada sábado (23) no Espaço Cultural Latino-Americano (ECLA), localizado no Bixiga, nasceu o Comitê de Solidariedade ao Povo Paraguaio, que deve se reunir novamente na quinta-feira (28). “A proposta é enviar uma missão ao Paraguai e verificar a situação do país”, conta Charbel. “Também iremos presionar o governo brasileiro para endurecer sua postura em relação ao novo presidente paraguaio e articular com movimentos de solidariedade em outros países.”
O estudante revela que já se estuda a proposta de fazer uma marcha mundial contra o golpe de Estado no Paraguai. “Hoje também houve atos de repúdio na Bolívia e no Peru. A ideia é unir todas essas iniciativas num só dia pra mostrar ao mundo que as nações latino-americanas não reconhecem o novo governo.”
Na Argentina, mais de 300 intelectuais, artistas, dirigentes políticos e militantes sociais assinaram uma declaração de repúdio à destituição de Fernando Lugo, diz o diário Página 12. “Trata-se de um processo que visa restaurar o stronismo, as tradições golpistas e a perseguição contra os que lutam por uma sociedade mais igualitária”, diz o texto, fazendo referência ao ex-ditador Alfredo Stroessner, que governou o país entre 1954 e 1989.
Os manifestantes que se concentraram em frente ao Consulado do Paraguai em São Paulo também acreditam que a força por trás do impeachment contra Fernando Lugo são as velhas elites políticas paraguaias. O Partido Colorado, que governou o país por 61 anos até ser interrompido pela vitória eleitoral do ex-bispo católico, foi bastante lembrado durante as intervenções.