“Ninguém aqui respeita o que eu posso sentir/a dor não tem voz, nos obrigam a partir/e se você tem coração então pense o momento/com seu filho no colo cair tijolo e cimento/fecharam os olhos para área existente/a cultura local sendo expulsa do presente/isso aqui não é comédia é muita tristeza/a história soterrada por muitas empresas/Olha a sujeira que está acontecendo/a Manhattan brasileira”
É assim que o rapper carioca Fábio Prestes enxerga os despejos e as remoções que estão acontecendo neste momento no Rio de Janeiro por conta dos preparativos da cidade para a Copa de 2014. Ele conta que passou a se familiarizar (e se indignar) com o tema porque trabalha como iluminador no barracão da escola de samba Pimpolhos da Grande Rio, que fica na zona portuária da cidade, próximo ao Morro da Providência: “Começamos a nos movimentar para divulgar tudo que estava acontecendo nos arredores e assim pude participar também de uma reunião com o pessoal do Forum Comunitário do Porto na quadra da Gamboa para me integrar mais sobre o assunto”.
Passando o recado em forma de rima, Fábio se juntou ao produtor e dj Machintal e juntos criaram o rap “Manhattan Brasileira”. Ele diz que a música foi resultado de pesquisa, relatos dos moradores e também do que sente, vê e busca: “são sentimentos, percepções, indignação e justiça”.
Aqui você pode ler o que o Copa Pública já falou sobre o Morro da Providência e abaixo assistir o vídeo feito por Fábio e Machintal. No pé da matéria, vai a letra do rap e um link para outras músicas do Projeto Prestes da dupla:
Ninguém aqui respeita o que eu posso sentir
a dor não tem voz nos obrigam a partir
e se você tem coração então pense o momento
com seu filho no colo caí tijolo e cimento
fecharam os olhos para área existente
a cultura local sendo expulsa do presente
isso aqui não é comédia é muita tristeza
a história soterrada por muitas empresas
Olha a sujeira que está acontecendo
a Manhattan Brasileira do seu bolso crescendo
sendo ótimo lugar para especulação
com grandes eventos atraíndo a multidão
esse é o Rio de Janeiro com mais um exemplo
a zona portuária a locação do momento
passa o Pereira passa o Paz
no porto maravilha é remoção demais
escrevem nas casas SMH
a tinta nazista que vai te marcar
dizem que vão fazer o seu cadastro
dias depois derrubam seu barraco
espera um instante ali vem o meu valor
trouxeram a grana com muito amor
um cheque social de 400 reais
o que fazer com isso Eduardo Paz?
Ninguém aqui respeita o que eu posso sentir
a dor não tem voz nos obrigam a partir
e se você tem coração então pense o momento
com seu filho no colo caí tijolo e cimento
fecharam os olhos para área existente
a cultura local sendo expulsa do presente
isso aqui não é comédia é muita tristeza
a história soterrada por muitas empresas
O aluguel aqui não para de aumentar
o povo brasileiro que não têm onde morar
grandes construções em paralisia
e o mosquito da dengue com direito a moradia
vejam só a tamanha calamidade
o balcão de negócios que virou essa cidade
Copa , Olimpíadas Filmagens de Hollywood
sem dinheiro para o bombeiro para educação e para saúde
tem bueiro estourando cuidado ao caminhar
o salto em distância começou a funcionar
o jogo já existe e é fétido o valor
a natureza do Rio revela sua dor
leva bem rápido feito sua ganância
olha o que a água tem deixado de lembrança!
e a Avalanche continua com o falso progresso
quando pensa em destruir eu construo meus versos
Ninguém aqui respeita o que eu posso sentir
a dor não tem voz nos obrigam a partir
e se você tem coração então pense o momento
com seu filho no colo caí tijolo e cimento
fecharam os olhos para área existente
a cultura local sendo expulsa do presente
isso aqui não é comédia é muita tristeza
a história soterrada por muitas empresas.