Por Clarissa Peixoto.
Os dias, todos, podiam ser uma manhã de sábado. De sol esfumaçado. Com gosto de café e meia dúzia de cigarros. Esverdeados. A soprar ideias que esfumaçam ainda mais o amarelo do sol. E pelas ruas, canções de gás e detergente, a perambular por caminhões solitários. Os dias todos, manhã de sábado, a revelar meninas que empinam pipas e meninos que choram no colo das mães. Manhã de calor suave, com a pressa de chegar e a tarde toda pra sair.
As noites, todas, podiam ser uma noite de outono. De bruma leve e fria, pingando na têmpora e nos joelhos desnudos. Com gosto de chiclete de menta ou cravo da índia. E pelos becos, gargalhadas altas e olhares atentos, a investigar vestígios invisível depois de mais um rodada de desesperanças. As noites todas, noite de outono, a revelar meninas que não tem mêdo e meninos que voltam chorosos para o colo das mães. Noite de frio ameno, sem pressa de acabar e sem inverno a perseguir.
Fonte: http://paranaodesaprender.blogspot.com/2014/09/manhas-e-noites.html?spref=fb
Foto: Conexão Paris