Por Preta Ferreira.
Malcolm X não viveu a democracia com que tanto sonhou. Não lhe deram tempo nem chance de conhecê-la.
Recebeu violência. Somente violência. Viveu em seu próprio corpo a violência física e mental imposta aos corpos pretos. Usou a revolta como ferramenta, mecanismo de defesa e de ação para se manter vivo.
Malcolm X escolheu não se render a nenhum sistema opressor. Ele era seu próprio líder. Não aceitou as imposições do homem branco. Questionou e combateu, pois sabia que a realidade dada não era a única opção. Queria que todos enxergassem a sutileza do racismo.
Revolucionário, não se importava em ser chamado de homem preto raivoso, em ser reduzido à figura de incitador de violência contra brancos. Sua revolta vinha de antes. Ele sabia que pessoas pretas revolucionárias sempre seriam taxadas de perigo para a sociedade.
“Vilão não é quem luta por liberdade, e sim quem oprime e tira a liberdade de outro indivíduo.”
Inquieto e questionador, para Malcolm X a teoria não bastava: acreditava que a mudança só nasceria da luta e da revolução. Seus estudos serviam para fortalecer suas concepções e reformular seus pensamentos e posicionamentos políticos. Queria viver o pensamento de que o povo preto pode fazer sua própria vida, queria tirar o poder das mãos do povo branco para que os negros assegurassem seu próprio espaço, mesmo que para isso fosse preciso usar a violência. Ele não aceitaria ser o negro da Casa Branca. Malcolm X lutava pela libertação total do povo preto.
Vilão não é quem luta por liberdade, e sim quem oprime e tira a liberdade de outro indivíduo. Sendo assim, demônios brancos eram somente os praticantes do mal. Racismo. Tinha pensamentos complexos, flexíveis e elaborados. Pensava em usar para se defender a mesma violência que os racistas usam para oprimir o povo preto. Para ele, a violência só deixaria de existir quando fosse partilhada. Isto é, os brancos só deixarão de usar a violência contra os pretos após conhecerem a mesma violência, até hoje imposta somente ao corpo preto.
Assassinado covardemente pela violência que tanto o perseguiu, foi silenciado pelo medo daqueles que a empregavam para se manterem no poder. Por aqueles que o consideravam um grande perigo.
O messias negro, liderando a revolução. Violência radical e revolucionária.
(Janice Ferreira Silva) é ativista, escritora, cantora e atriz. Começou a militar pelo Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), liderando depois, com seu irmão e sua mãe, a Frente de Luta por Moradia (FLM). É autora de “Minha carne: Diário de uma prisão” (Boitempo, 2021). Em 2019, recebeu o Prêmio Dandara, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
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