Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR.
Os sentimentos de indignação e tristeza tomaram conta das mais de 50 famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais da comunidade Ester Fernandes, em Alvorada do Sul, região norte do Paraná. Cerca de 200 policiais, 60 viaturas e integrantes da Tropa de Choque realizam neste momento o despejo das famílias, que vivem e produzem na área há 10 anos. As famílias terão até o final do dia para deixar a área, e ficarão alojadas provisoriamente no assentamento Iraci Salete, localizado no mesmo município. Ao todo, cerca de 150 pessoas vivem no local, entre crianças, jovens, adultos e idosos. “Nós não queremos ouro e prata, não. O que nós queremos é isso aqui, um pedaço de terra que vai dali até aqui em cima, pra gente ter o nosso sustento, comer, ter água, ter uma animal pra gente sobreviver. Gostamos da terra, fomos criados na terra, aí vem essas pessoas injustas. O governo não conhece a situação dos Atalla? Não sabem quem são, não conhece as dívidas dessas pessoas? Cadê o governo que não ajuda o povo?”, questiona uma das moradoras do acampamento.
A área de 692 hectares é chamada fazenda Palheta e pertence ao grupo Atalla, proprietário da Usina Central do Paraná. A fazenda foi classificada pelo Incra como grande latifúndio improdutivo em 2008, e ocupada pelos agricultores e agricultoras sem terra em janeiro de 2009. Além da improdutividade das terras, o grupo Atalla deve cerca de R$ 650,2 milhões para a União e foi flagrado com trabalhadores em situação análoga à escravidão, a partir de investigação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal.
O agricultor Samuel Pereira vive no acampamento com a família e relata ter sido uma das pessoas que enfrentou condições desumanas de trabalho em terras dos Atalla: “Eu posso dizer que eu mesmo nasci na terra dos Atalla e posso falar que a gente passou por desigualdade social, passamos até necessidade de pão por atraso de pagamento, serviço escravo. Eu sou uma das testemunhas”. No dia 24 de outubro, as famílias receberam um ato inter-religioso em apoio e solidariedade. Mais de 400 pessoas participaram do ato, entre autoridades religiosas e políticas, além de moradores da comunidade e da região. O município de Alvorada do Sul integra a Região Metropolitana de Londrina, norte do Paraná.
É o 8º despejo realizado durante a gestão de Ratinho Junior (PSD) à frente do governo do Estado. Cerca de 80 acampamentos rurais do Paraná seguem sob ameaça. Bispos do estado tem se posicionado contra as reintegrações de posse.
Situação jurídica
As famílias já sofreram dois despejos na área, em 2009 e 2010, no entanto, conseguiram se reorganizar e reocupar a fazenda. O juiz da Vara Cível da Comarca de Bela Vista do Paraíso ordenou que a desocupação da área deveria ocorrer até o dia 19 de outubro de forma espontânea. Caso as famílias não saíssem, o juiz ordenou o uso de força policial e desligamento da energia elétrica. O corte na energia elétrica tem prejudicado a saúde de um morador idoso que utiliza aparelho de inalação, e também fez com que as famílias perdessem alimentos armazenados em geladeira.
O advogado da comunidade, João Carlos Peres, e a Defensoria Pública do estado entraram com recursos no Tribunal de Justiça (TJ) com o pedido de suspensão do despejo. O pedido foi negado pela 17ª Vara Cível do TJ, sob relatoria do desembargador Francisco Carlos Jorge, na última sexta-feira (25).
*Editado por Fernanda Alcântara.