Por Jose Figueiredo para o Homo Literatus
Há alguns anos fizemos uma primeira lista sobre o tema (clique aqui). Assim, listamos livros básicos para quem quiser se aventurar um pouco pelo tema. No entanto, o tempo passa e um entendimento maior sobre o tema se faz necessário.
Essa lista é complementar à primeira. Ou seja: contém livros de variados campos do pensamento para entender política na sua teoria e práticas. Contudo, fica um alerta: não há neutralidade política. Nunca houve.
Se os itens desta lista, como os da anterior, ensinam algo, seria a mensagem de que política tem objetivos de poder. Logo, tem-se um lado. Entender política não é amá-la, nem as suas várias vertentes. Entender política é necessário mesmo que se queira combatê-la.
Divirta-se.
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Política – Aristóteles
Para alguns, certos trechos da Política de Aristóteles podem parecer controversos ainda hoje. Por exemplo, ele é o primeiro pensador ocidental a pensar abertamente a diferença entre homens donos de si e homens não donos de si, ou seja, escravos.
Por outro lado, o mesmo Aristóteles pensa no bem comum, ética e política. Não por acaso, muitos trechos atribuídos a pensadores de esquerda que circulam pelas redes, pertencem ao pensador grego.
Um livro interessante para opor o pensamento de seu mestre, Platão, em A república. Além disso, uma boa forma para tentar entender a política e as origens do nosso pensamento político advindo da Grécia antiga.
Vigiar e punir – Michel Foucault
Publicado em 1975, Vigiar e Punir foi um marco para repensar a política, em especial a política social, no ocidente. Assim, Foucault analisa as instituições e entidades estatais (escola, hospital, prisão) e seus modus operandi.
A partir daí, vê-se como a sociedade e tais mecanismos separa os indivíduos entre si. Primeiro, os que seguem as regras – ou se submetem – das instituições são os cidadãos normais. Porém, caso você faça algum desvio das normas, você é louco, meliante, malvado ou mesmo anormal.
Uma boa análise para entender política. Assim como mostra que as nossas próprias instituições, mesmo que não percebamos, são capazes de nos julgar e punir dentro de regras nem sempre tão claras.
Ensaio sobre a liberdade – John Stuart Mill
A proposta clássica de liberalismo proposta por John Stuart Mill parece muito estranha a muitos liberal hoje. Contudo, deve-se analisá-la para entender as bases do seu pensamento.
Entender política, segundo Mill, é entender os limites da liberdade pessoal frente ao outro. Assim, ao definir o princípio de dano, Mill desenvolve a ideia de que o indivíduo tem o poder de exercer o seu poder de ação – inclusive político – de forma livre, sem barreiras.
Contudo, ele também ressalta que este mesmo princípio do dano não pode ser usado como desculpa para forçar o outro ou invadir a sua liberdade. Inclusive, ele ressalta que não se deve forçar os outros a reexaminar suas crenças, pois isto poderia levar determinado pensamento ao nível de dogma – o que seria ruim.
A arte da guerra – Sun Tzu
A Arte da guerra é provavelmente um dos livros mais importantes para entender política no ocidente hoje. Mesmo não sendo considerado por muitos um livro acadêmico por sua origem chinesa, sua influência se vê em todas as áreas de atuação e de comando.
Dividido em treze partes, Sun Tzu nos apresenta todas as áreas em que um estrategista deve pensar. Assim, ao tentar racionalizar o combate, ele acabou transferindo a ação militar do campo da guerra ao campo da administração.
Seus conselhos focam mais numa ação conjunta e pensada do que em ataques grandiosos. O conjunto, e como mantê-lo unido, é a base para o pensamento de Sun Tzu. Politicamente, isso significa um líder forte e organizado. Ou seja, para entender a figura centralizadora como a entendemos hoje, é preciso retornar a esta pequena, porém impactante, obra.
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As origens do totalitarismo – Hannah Arendt
Hannah Arendt analisa os dois grandes regimes totalitários da época, a Alemanha nazista de Hitler e a União Soviética stalinista para entender como grupos políticos podem chegar ao poder de forma tão brutal.
Segundo Arendt, entender política é entender os preconceitos de certos grupos e seus resultados políticos. Dessa forma, o antissemitismo russo e alemão do século XIX desembocam nas escolhas políticas do século XX.
Para além, Hannah Arendt foi uma das primeiras pessoas a analisar de forma sistemática o poder político da propaganda. Seu potencial para mudar ou mesmo camuflar ideias óbvias às massas ainda se mostra pertinente hoje.
18 de brumário de Luís Bonaparte – Karl Marx
Ao contrário do Manifesto comunista, onde Marx propõe suas ideias, 18 de brumário de Luís Bonaparte serve como caminho para entender a aplicação das suas propostas.
Assim, vemos a análise dos movimentos revolucionários franceses entre 1848 e 1851 que levaram Napolão III ao poder. Para tanto, Marx emprega suas principais teses: materialismo histórico, luta de classes, revolução do proletariado.
Um bom movimento para quem quer ler e compreender a teoria e prática marxista de forma acessível e prática. No entanto, entenda uma coisa: compreender política e suas perspectivas não é concordar com todas, antes conhecê-las.
A revolução dos bichos – George Orwell
Não existe outra forma de entender política de forma mais prática e direta que este curto romance de George Orwell. Nele, acompanhamos a revolução dos animais contra os humanos numa granja e seus desdobramentos.
Baseado na ascensão de Stalin na União Soviética, Major, Napoleão e Bola de Neve representam algumas das várias possibilidades políticas existentes. Dessa maneira, é interessante notar que muitos dos conceitos citados nesta lista e na anterior surgem durante a narrativa.
É, portanto, um exercício interessante para ver a prática política descrita em forma de narrativa. Leia os vários livros citados e depois retorne a este romance.