Maior desafio para o Rio, transporte é fundamental para Jogos, diz diretor londrino

Por Bernardo Medeiros e Moreno Bastos*.

David Waboso

“O transporte público é fundamental. Não é nem uma escolha. É impossível fazer o deslocamento em um evento como as Olimpíadas de carro”. A quatro anos para o início dos Jogos do Rio de Janeiro, o recado está dado. E ganha muito peso por quem o fala. David Waboso é diretor de programação e financeiro da TFL, empresa que administra todo transporte londrino. É ele que gerencia os investimentos feitos na mobilade urbana da capital britânica. Em cinco anos, foram cinco bilhões de libras destinadas ao setor.

“Cidades são diferentes, Londres não é como Pequim ou Sydney. O Rio tem que encontrar o seu modelo, ver qual a melhor forma de transporte. Seja de ônibus, trem, metrô, bicicletas ou até à pé. Mas o importante é que haja ligação entre os pontos. O turista tem que ir do aeroporto para o hotel, para as praças esportivas. Isto tudo com segurança, rapidez e eficiência. O restante da cidade também não pode parar por conta dos Jogos.”

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Com topografia plana, a capital britânica também possui um sistema público de locação de bicicletas. Espalhadas em 350 pontos da região central. Popular desde sua criação, há dois anos, o modelo não chegou a zona 3 da cidade, onde está localizado o Parque Olímpico de Stratford, mas deve ser expandido nos próximos anos. “É barato, deixa as pessoas em forma, faz bem à saúde e ajuda no deslocamento”.Por toda a cidade, o transporte público londrino realiza 12 milhões de viagens/dia. Maior rede de metrô do mundo, Londres conta com 270 estações em aproximadamente 400km de trilhos.

A mudança mais significativa ocorreu em Stratford. Antes uma área degrada, com fábricas abandonadas, foi remodelada para abrigar o Parque Olímpico. A região conta agora com dez formas de conexão, capazes de fazer 240 mil viagens em uma hora. É a segunda maior em quantidade de conexões de transporte em toda a capital inglesa.

O processo pode servir de exemplo para as obras na zona portuária do Rio, área histórica, mas empobrecida da cidade. Se não vai servir como área esportiva, o local será usado para atrair turistas à vida cultural da cidade e também como posto de atracação para navios, que servirão como hotéis nos Jogos, dado ao déficit de quartos na capital carioca. O legado é, para o diretor londrino, o maior ganho dos Jogos.

“Isto tudo que está aqui fica. Às vezes as pessoas acham que uma estação é grande demais, mas isso é planejar o futuro. O legado é a longo-prazo. Stratford é uma região que irá se desenvolver muito após os Jogos. É onde Londres irá crescer. É mais ou menos o que ocorreu com Canary Wharf, hoje um dos maiores centros financeiros do mundo. Há 15 anos não existia nada lá, pois não havia conexões com o restante da cidade”, explica Waboso.

O brasileiro Maicon Cordeiro já vê reflexos desta mudança. Ele mora há quatro anos na região do Parque Olímpico. “Mudou tudo aqui. Havia um problema de gangues, agora já está bem mais seguro. O comércio se desenvolveu, o transporte melhorou muito. Em compensação, está mais caro morar aqui. Quando vim, era o lugar mais barato da cidade.”

Com um sistema de transporte sensivelmente menor que o de Londres, tanto a prefeitura do Rio de Janeiro como o Comitê Organizador dos Jogos admitem que o setor é o principal desafio. Além de obras de melhorias no sistema já constituído, a aposta para reformular o transporte até os Jogos Olímpicos de 2016 será a construção de 150km de vias do BRT (Bus Rapid Transit).

* Especial para EBC.

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