Olhares entristecidos, corpos sofridos, sorrisos guardados, mãos machucadas, pés que andam sem descanso.
Calçadas, praças, becos e muros são os ambientes das tantas vidas maltratadas, excluídas e marginalizadas.
Andam, vão e vêm sem ter para onde, há tão somente as ruas, os escombros e o lixo largado pelas multidões que passam.
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Elas, mulheres Mães das calçadas, têm seus sonhos brutalizados, os desejos bloqueados e as esperanças desfeitas pela dor do abandono e solidão.
Carregam os filhos e filhas sabendo que não há um amanhã seguro, nascem condenados a uma existência sem lar, uma cama, sem horizontes.
Elas, as Mães das calçadas, sabem dos perigos em cada esquina, conhecem a violência institucionalizada pelo estado e suas forças repressoras.
Elas sentem nos corpos violados, abusados e brutalizados pelo agressor, em geral homens, a angústia e desespero de não ter segurança de deitar, dormir e acordar.
As Mães e os filhos das calçadas são repelidos e desumanizados por culturas de dominação constituídas por dentro das entranhas do machismo e das mais diversas expressões de intolerância.
As Mães das calçadas são – na quase totalidade – mulheres jovens e negras, marcadas, portanto, pelo que há de mais perverso nas sociedades contemporâneas: o racismo.
Porto Alegre, 04 de abril de 2024.
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