Por Rosangela Bion de Assis, para Desacato.info.
Eu passava pela Tiradentes com meu primeiro namorado,
era o jeito de prolongar o caminho até o terminal depois da aula, à tardinha.
Nesse dia não pegava o escolar, íamos espremidos pelas calçadas até a Praça.
Nos dias de glória, tinha pipoca.
Quando consegui uma vaga no Instituto Estadual de Educação, fazia parte de um grupo de teatro com nove meninas, que ensaiavam no Centro Social Urbano.
Adivinha quem escrevia as peças?
Depois dos ensaios íamos pelo caminho entregando papeizinhos divulgando nossa obra, do Saco dos Limões até o José Mendes.
Minha mãe dizia que eu adorava um ‘ajuntamento’.
Adorava mesmo.
O Instituto daqueles tempos
não tinha segurança nas portas, nem muros, usávamos uma blusa azul clara com gola.
Foi ali que aprendi o que era poesia e fiz ginástica rítmica.
Em pleno sete de setembro, fiquei sozinha de colã e fita na mão, em plena Beira Mar Norte.
Foi ali que a professora de português explicou: ‘se gosta de escrever vai fazer jornalismo’.
Foi ali que fui parar na Coordenação pelo cumprimento da saia.
Foi ali que eu perdi os mapas de geografia nas quadras e conheci as crônicas de Carlos Drumond.
Dançei tudo o que pude de polaina e sombra azul nos olhos, trancada no quarto.
Escrevi o diário de um namoro escondido.
Mas havia um momento,
Era no sofá da sala iluminada pelo dia.
Um livro numa mão e a maçã na outra.
A conjugação maçã-livro-sofá promovia um conforto renovado a cada mordida, cada parágrafo.
O abraço das palavras.
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Rosangela Bion de Assis é jornalista, poetisa e presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul.