“Eles sabiam que ia romper”, cantaram em coro cerca de mil pessoas vindas de diversas regiões de Minas Gerais e Espírito Santo até o Rio de Janeiro. O número 378, na Rua Almirante Guilherm, parece ser mais um prédio comercial do bairro carioca do Leblon. Mas ali está instalado um dos escritórios da Vale S.A., a maior produtora de minério de ferro do mundo e co-responsável pelo maior desastre sócio-ambiental da história mundial.
Na segunda-feira (2), as populações afetadas pelo rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, ocorrido em novembro de 2015, marcharam logo no início da manhã para denunciar a impunidade desse crime. A Samarco, dona da barragem, é uma joint venture controlada pela mineradora brasileira Vale, e pela anglo-australiana BHP Billiton.
“Enquanto eles estão tranquilos no ar condicionado dentro desse prédio, todos nós, atingidos pelo crime das mineradoras [Samarco, Vale e BHP Billiton], convivemos com a falta de água, problemas de saúde e muita lama durante esses dois anos”, afirmou Simone Silva, moradora do município de Barra Longa (MG).
No protesto, os atingidos carregaram 19 cruzes que simbolizaram as pessoas mortas em decorrência do rompimento. Após um minuto de silêncio, foram entoados em jogral todos os 19 nomes das vítimas.
Para o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli, a principal denúncia é o agravamento da situação dos atingidos ao longo desses dois anos. “Entre acordos judiciais e discursos vazios, o que perdura é a perpetuação do crime que aconteceu há dois anos. Além da impunidade, o se mantém é a negação de direitos”.
O ato faz parte do 8º Encontro Nacional do MAB, que acontece entre 2 e 5 de outubro no Terreirão do Samba, no Rio de Janeiro, e reúne cerca de 3.500 pessoas atingidas por barragens de diversas regiões do país. Nesta tarde, às 16 horas, ocorrerá a abertura oficial com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quanto Vale?
No final da atividade, os músicos Emílio Dragão e Priscilla Glenda, integrantes da banda mineira Djambê, cantaram ao vivo a música “Quanto Vale?”, que se tornou uma marca de resistência contra o crime ocorrido em Mariana.
Fonte: MST.