Por Márcio Papa, para Desacato.info.
O grupo jovem do MST, composto por quase 500 jovens dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul realizam desde ontem 01/06, oficinas e assistem palestras, no Centro de Cultura e Eventos na UFSC , da capital catarinense.
Através do projeto “De olho na Terra”( região Sul), é co-organizado pela Universidade Federal e Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, juventude e Cultura do -MST- e setores de sua comunicação.
O compartilhamento de vivências entre os grupos envolvidos, visa o empoderamento da juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, através de debates, oficinas voltadas aos campos da Comunicação, tecnologia. Mas também, com intuito da criação de práticas de Cultura, Arte popular e da Comunicação, partindo da realidade dos assentamentos, revela a Coordenadora do Coletivo de Cultura, Luciana Frozi.
Durante os trabalhos desta quarta feira, os Jovens do MST, receberam a visita, para uma conversa informal sobre a soberania Comunicacional, os Jornalistas Elaine Tavares e Raul Fitipaldi. Ambos, são ativistas da democratização da mídia e dos Meios de Comunicação. Na busca pelo direito a pluralidade e diversidade regional , à convergência midiática no cenário digital, na inovação e a difusão da identidade dos Jovens.
Foram abordados temas associados à Soberania Comunicacional, o controle social da Mídia, a escolha e o acesso aos instrumentos e ferramentas eletrônicas, capazes de prover autonomia na produção da informação de conteúdo real de suas vidas.
Em curta entrevista ao Portal DESACATO, o diretor de planejamento do mesmo veículo, Raul Fitipaldi, visivelmente emocionado, frisou a importância da Comunicação do Movimento de Reforma Agrária, através do MST, em parceria com a UFSC:
Raul Fitipaldi:
” – Essa geração expõe no presente, a própria mobilização do MST na busca por acesso à democratização da Mídia. É uma geração que aprendeu muito com os erros de seus Pais e Avós, e que estão dispostos a entender como a Comunicação é estratégica, para se mudar a correlação de forças. Não apenas da juventude do Campo, mas também da Urbana e Periférica…”
“- Estamos muito felizes, (os dois) em estarmos dentro de uma Universidade Federal, espaço público, patrocinado por impostos do trabalhador. Recebendo os jovens de três Estados Brasileiros…- Para Nós, em avançado momento da carreira jornalística, vemos assegurado, a continuação da Luta de Classes e de um Jornalismo capaz de sonhar na transformação…”
A jornalista-escritora e Blogueira Elaine Tavares, também fez um breve depoimento, durante o evento:
Elaine Tavares:
” – Minha vida profissional, teve um recorte grande, na medida em que me aproximei do MST, pelos idos anos de 1986. Agora, ao lado da Juventude, é uma experiência muito legal! -Essa gurizada que aqui está, são filhos dessa gente que vem, desde os anos oitenta, construindo a Reforma Agrária na marra…- É um pessoal que estuda, se preocupa em compreender a realidade e mudá-la. Mais de quatrocentos jovens, discutindo Comunicação, fará brotar daqui, coisas muito bonitas. Como é comum no MST.”
O projeto ‘De olho na terra’ — região Sul
Resultado de uma parceria entre o Lecera, ( Laboratório de Educaçãodo Campo e Estudos da Reforma Agrária ) os departamentos de Jornalismo e de Artes e Libras da UFSC, o MST e o Ministério das Comunicações, o projeto visa à criação, nos três estados da região Sul do Brasil, de telecentros e centros de formação em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) equipados com laboratório de informática, ilha de edição, câmeras, microfones, projetores etc.
Além da infra-estrutura e dos equipamentos, o projeto envolve oficinas que vão desde a informática básica e a internet até a produção e finalização de vídeos.
Bruna Boni Lavrati, jovem que participou da palestra e está isncrita nas oficinas, cedeu entrevista ao Portal DESACATO:
Márcio Papa/ DESACATO:
– O controle da Mídia e o acesso aos meios de produção dela, é a próxima conquista do MST, e da organização básica do MST Jovem -SUL ?
Bruna Boni Lavratti:
” – Se queremos sermos vistos pela sociedade, pelo que realmente somos, precisamos conquistar o espaço do latifúndio da Comunicação. É extremamente necessário que se debata sobre Comunicação, como inovar, de lá a onde vivemos… Passar adiante nossa cultura, e como vivemos.”
De Correia Pinto, Município Catarinense, Josel Vargas, reconheceu um certo “acanhamento” entre os jovens, mas destacou a forte consciência coletiva entre todos, de que a Mídia tem focado sempre as questões, vistas como negativas, no MST:
” – A onde moro, temos uma rádio Comunitária, a Voz da Terra FM. Estamos tentando, com dificuldades, criar programas alternativos, diferentemente do que existe nas rádios comerciais…-Quando tentamos apresentar novidades, ainda temos uma forte resistência…Como na radionovela, que estamos produzindo… Os ouvintes, ainda estão muito acostumados com o que receberam sempre, na programação comercial…”
A luta de vida e morte do MST
O conflito da questão agrária no País, provocou a morte de 49 (quarente e nove) mortes em 2015, dos indivíduos envolvidos nos Movimentos de Luta pela Regularização Fundiária. O alarmante número, é o maior em 12 (doze) anos, segundo divulgado em janeiro pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Dados da ONG internacional Global Witness, de abril de 2015, dão conta que o Brasil é o primeiro da lista de países que mais tiveram ativistas ambientais e agrários assassinados, há quatro anos ano consecutivos.
Das 29 mortes de líderes e militantes de causas ambientais ou agrárias registradas no país no ano passado, 26 delas estavam ligadas a conflitos de terra. Quatro das vítimas eram indígenas.
Fontes:
LECERA
http://www.lecera.ufsc.br/
Mais informações na página do Lecera e pelo telefone (48) 3721-5417.
EBC
Pastoral da Terra -CPT-
INTERNATIONAL GLOBAL WITNESS
https://www.globalwitness.org/en/