Luta dos moradores da Ocupação Contestado em São José é tema de documentário

Por Caroline Borges, para Desacato.info.

Era noite do dia 3 de outubro de 2012 quando cerca de 110 famílias ocupam um terreno abandonado no bairro Serraria, em São José. Dias depois, 7 de outubro, as mesmas famílias são despejadas. A partir desse momento a luta da Ocupação Contestado se inicia. E são estes três anos de vida da comunidade que agora toma forma em um terreno provisório, que serão contados no documentário “Todo dia é de luta”.

Segundo Dagoberto Bordian, integrante da ocupação, todas as manhãs, ao acordar a comunidade enfrenta uma batalha. “Aqui só é bom porque não pagamos aluguel, mas mil vezes eu pagando e tendo um conforto”, afirma. No terreno de 48.468,75 dm², onde são estipulados cerca de 20 metros quadrados por habitação, as 110 famílias vivem sem saneamento básico, energia elétrica ou água tratada. “Tudo aqui é feito pelos moradores. A luz, a ligação de água, os banheiros, tudo.”, completa Dagoberto. Vivendo na localidade graças a um acordo com o proprietário do terreno, as famílias, além das dificuldades estruturais, sofrem também com o medo do despejo. “Eu sempre penso que podemos ser despejados a qualquer momento, por isso não invisto no meu barraco. Aqui só tem o básico mesmo”, esclarece Lucinei de Souza.

A batalha da comunidade é também por um lugar mais apropriado ou “com mais dignidade para viver”, como afirma a ocupante Benedita Batista da Costa. Com um terreno no bairro Avenida das Torres já doado pela União e com um projeto elaborado pela Prefeitura de São José para a construção de unidades habitacionais, os integrantes pretendem dizer adeus ao atual terreno. “A gente espera sair desse terreno daqui a um ano. Na verdade, a construção demora no máximo 8 meses, aí saindo o dinheiro e a prefeitura aprovando, fica encaminhado”, conta Dagoberto.

Assim, a história dos ocupantes de um terreno contestado pelo poder público, revela o déficit habitacional na cidade, que integra a metrópole da Grande Florianópolis. De acordo com o Secretário de Projetos Especiais de São José, são hoje no município mais de 10 mil famílias em condições de moradias precárias. Apesar do número bastante grande, o projeto atual da Prefeitura é de, nos próximos anos, construir 170 moradias habitacionais, onde parte será destinada à comunidade do Contestado.

Aos trancos e barrancos, lutando durante os três anos que ocuparam o terreno, e seus integrantes do Contestado encontraram pelo caminho o apoio das Brigadas Populares, um movimento formado por jovens ativistas que propõem um conjunto de medidas a fim de responder às demandas da população de baixa renda, como direto à moradia ou à informação. Membro das Brigadas em Santa Catarina, Talita Guimel conta que a realidade vivida pelos moradores o era impensável há tempos atrás. “De fato é uma realidade muito diferente da minha, e estando aqui a gente começa a perceber desde questões básicas como, por exemplo, se vai ter água ou energia elétrica”. Para a jovem estudante de Serviço Social, o trabalho junto às Brigadas auxiliou no processo de formação pessoal e acadêmica. “Eu estou aqui para construir um poder popular, uma moradia popular uma cidade popular, em que todo mundo tenha direito de fato as coisas que precisam, desde a moradia até a cidade”.

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Auxiliaram na produção do audiovisual, Amanda Vieira da Silva, Thaís Lobo, Larissa Melo e Brigadas Populares.

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