Por Kaique Dalapola, para Ponte Jornalismo.
O filme A Mãe voltou a ser premiado, e conquistou três troféus no 50º Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul, no mês passado. O diretor da obra, Cristiano Burlan, venceu como melhor diretor, Marcélia Cartaxo levou o prêmio de melhor atriz, além do troféu de melhor desenho de som.
O longa-metragem já havia vencido, em março deste ano, um prêmio no Festival de Cinema de Málaga, na Espanha. Na ocasião, a ativista Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Independente Mães de Maio, foi premiada pela sua participação como melhor atriz coadjuvante.
O filme conta a história de Maria, interpretada por Marcélia Cartaxo, que é uma nordestina que trabalha como camelô na cidade de São Paulo. Ela vive em um bairro periférico, e acaba perdendo o filho assassinado pela polícia. Assim como as Mães de Maio, a personagem também inicia uma busca por respostas pela morte do filho.
Embora a obra seja ficcional, a história cruza com a realidade de diversas famílias periféricas, inclusive a do próprio diretor. Burlan teve um irmão morto pela Polícia Militar de São Paulo, a mãe foi vítima de feminicídio, e o pai, pedreiro, também foi assassinado.
As três histórias trágicas na vida do diretor já haviam sido contadas em outros filmes. O primeiro deles, lançado em 2006, é Construção, que apresenta a história de seu pai. Depois, em 2013, o cineasta estreou o filme Mataram Meu Irmão. Por fim, cinco anos depois, em Elegia de um Crime, Burlan conta a história de sua mãe.
A história do cineasta contribuiu para que Débora considerasse válida sua participação na obra, como atriz coadjuvante. “Vi que o diretor não era um oportunista, porque ele já tinha feito pesquisa com o movimento de mães, e quando assisti os filmes dele, me prontifiquei a participar”, conta a líder das Mães de Maio.
A vencedora do prêmio em Málaga destaca também que sua participação na obra “tem como objetivo a luta, e por isso levamos as mães dos 365 dias do ano”. “É um fortalecimento da luta por justiça estar nesse espaço que é o cinema. A gente sabia da grandeza que é estar em um filme, mas não tínhamos certeza de como seria”, conta Débora.
Além de apresentar a história de uma mãe na obra, conseguindo atingir um público que o movimento de mães em luta não chegaram antes, Débora afirma que a indicação do filme a prêmios e exibições em diferentes lugares são oportunidades para levar o debate e pedir por justiça e o fim do extermínio da população jovem e negra do país.
“Tivemos uma fala no Festival de Gramado, e eu disse que a atriz representou na ficção como se fosse uma mãe que perdeu um filho mesmo, como acontece na vida real, não só no filme. Uma história de uma mulher branca, mas que é camelô, de favela, e está nessa posição tão comum entre tantas mulheres, que é de vítima da máquina que extermina a pobreza matando os pobres”, diz a ativista.
A previsão é que ‘A Mãe’ seja exibido no Espírito Santo e em Minas Gerais, com a presença de mães que perderam seus filhos para a violência policial desses Estados, e deve chegar para ser apresentado em São Paulo no mês de novembro.
“Esse filme representa todas as mães e os prêmios vêm do céu. Vem da mãe do Cristiano [Burlan], de todas as mães que já foram embora, e também de todos os nossos filhos”, finaliza Débora.