Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
Vou dizer uma coisa pra você, eu quero apoiar o governo do presidente Lula. Defendi sua eleição, novamente, mesmo sendo um presidente cada vez mais social democrata, e entendo que faço bem. Agora, sabe aquele ditado: me ajuda a te ajudar? É meu mantra diário quando falo da política interna do presidente.
Compreendo, como homem idoso que sou, que o tempo e as circunstâncias nos mudam, ora para melhor, ora para pior, ou nos deixam parados em atos e pensamentos passados, congelados como estátuas. Faz parte da vida. Porém, estamos falando de um homem que obteve um reconhecimento gigante na região e no mundo por sua luta operária, por sua vontade de justiça, pelo seu apreço pela verdade e por manter viva a memória dos oprimidos. Esqueceu isso o presidente Lula?
Tanto medo pelos monopólios de comunicação e pelos militares me produz uma mistura de pena e profunda irritação. O mais grave, é que o caminho pelo qual transita com relação a esses dois setores, só conduz à derrota política e à desvalorização da precária democracia que temos. Essa que, mal ou bem, o levou até onde está, para nos defender e representar como povo, para nos restabelecer como uma sociedade de direitos.
O cancelamento da criação do Museu da Memória e dos Direitos Humanos é, no mínimo, uma traição do Lula ao próprio Lula. E também é uma traição aos que deram sua vida para reconquistar a democracia que levou Lula à presidência três vezes. Que fez o Lula ao cancelar a criação do museu e os atos do 1º de abril? Lula comungou no altar daqueles setores que o colocaram preso em Curitiba, durante quase 600 dias, para que não fosse presidente e para que o fascismo assumisse a condução genocida do Brasil.
Qualquer um que leia e assista a mídia monopólica, vê com clareza, que a Faria Lima e os pastores do inferno, já compraram a madeira para fazer o caixão do governo progressista. Lula, em lugar de chamar ao ato de 1º de abril, em lugar de prestigiar a criação do Museu da Memória e dos Direitos Humanos, renuncia à sua história. Lula se apequena, se entrega, e nos entrega a todos e todas que sonhamos com uma sociedade crítica, com conhecimento histórico, altiva e digna. Lula enterra uma das partes mais transcendentes do legado da classe operária, dos estudantes, do povo negro, dos povos originários, e da memória deste Brasil tão maltratado e desigual.
Lula ainda pode corrigir seu erro, mas, possivelmente, não o fará e, talvez, um dia assista à sua imolação política no labirinto da maldita governabilidade, essa que só existe nos limites da democracia medíocre que a burguesia nos permite frequentar a cada 2 anos.