Por Najla Passos.
Errou quem apostou que nada mais excêntrico poderia acontecer na semana em que o vice Michel Temer resolveu ter uma DR com a presidenta Dilma Rousseff via carta formal; em que o presidente da Câmara Eduardo Cunha e sua tropa de choque conseguiram adiar pela sétima vez a votação da admissibilidade do processo da sua cassação; e em que a antipática dublê de latifundiária e ministra da Agricultura de governo dito popular, Kátia Abreu, virou ícone feminista ao jogar uma taça de vinho na cara do senador tucano e machista José Serra.
Candidata derrotada do PSOL à presidência nas eleições de 2014, Luciana Genro entrou na disputa pelo ranking de principal personagem dos programas de humor tupiniquins nesta quinta (10), ao publicar em sua página na internet o artigo “Contra Cunha e Temer, por eleições gerais em 2016”. No texto, ela se declara contra Cunha, contra Temer, contra o impeachment e contra o governo do PT, concomitantemente. E ainda reivindica novas eleições para todos os cargos da república no ano que vem.
No artigo, Luciana Genro faz uma avaliação da conjuntura brasileira, que reconhece como de “extrema gravidade”, devido à crise política e econômica. Critica frontalmente os desmandos do presidente da Câmara e elogia a postura da bancada do PSOL de cobrar seu afastamento. Ela também lembra que possui profundas divergências com o estilo do PT de governar, como explicitou na campanha. Mas também deixa bastante claro que o pedido de impeachment, da forma como vem sendo feito, é uma estratégia golpista, com a qual não pode concordar.
Luciana afirma ainda que o vice-presidente não pode assumir o cargo máximo do país, já que não possui nem 2% de aprovação popular, menos da metade do percentual de votos que ela conquistou na eleição passada. Para ela, o melhor caminho é derrotar o impeachment. Mas não para retomar a ordem constitucional, e sim para cobrar do governo Dilma a responsabilidade de promover eleições gerais antecipadas.
“Através de novas eleições o povo poderá expressar o seu descontentamento de forma direta, sem a intermediação de políticos e partidos golpistas, que se aproveitam da indignação popular para impor os seus interesses. Esta mudança no calendário eleitoral é absolutamente necessária diante da gravidade da situação, e nestes momentos de grave crise, mais do que nunca, é o povo quem deve ter a palavra final, e não as castas políticas em seus conluios escusos”, afirma.
Felizmente, não conseguiu convencer nem mesmo seu próprio partido. Em nota, o PSOL deixou claro que o posicionamento da legenda não incluiu eleições gerais fora do prazo legal. “O partido convoca a militância a mobilizar, junto com os movimentos sociais na Frente Povo Sem Medo, contra o ajuste fiscal do governo federal e pelo Fora Cunha. Ao mesmo tempo, se coloca diretamente contrário ao processo de impeachment em curso – sem, contudo, defender o governo. O partido manterá a sua atuação como oposição à esquerda”, diz no documento.
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Foto: PSOL.
Fonte: Carta Maior.